segunda-feira, 28 de outubro de 2013

A ENCOMENDA PRODIGIOSA


Gostei. Aprende-se sempre qualquer coisa. E a guia, além da erudição que demonstrava, era muito boa comunicadora. Não vi, nem estava à espera de ver, um espólio de deixar a boca aberta. Como? Se toda aquela riqueza, se todo aquele luxo ficou destruído ou pilhado em 1755!

D. João V concebeu uma estratégia para se impor como rei absoluto em Portugal e fez uso de todo o ouro imenso vindo do Brasil para se afirmar também na Europa e frente ao Papado. Pretendia ser visto como um rei tão poderoso como os das demais potências. A ARTE ESTAVA AO SERVIÇO DESTE OBJECTIVO. Contratou os melhores artistas do tempo, que trabalhavam em Versailles e em S. Pedro, em Roma. Cá, o alemão Ludovice acompanhava, minuciosamente, os projectos.

Contudo, à medida que a guia descrevia “a encomenda prodigiosa”, as características da Patriarcal, os materiais empregues no edifício, as artes decorativas produzidas às dezenas ou centenas, mesmo quando já corriam rumores de que o ouro se esgotava, não consegui sentir senão angústia e revolta.
Primeiro, porque nós, humanos, não somos nada face ao poder da Natureza. Tenho consciência disso. Em minutos, tudo ficou destruído!
Depois, porque não consegui deixar de fazer um paralelismo com a crise que vivemos e como, ao longo da História, sempre nós, ou povo, ou governantes, ou todos juntos, conseguimos desbaratar oportunidades dadas pela pimenta, pelo açúcar, pelo ouro, pelos diamantes, pelo café… pelos fundos europeus. E aqui estamos nós na estaca zero!
Resta-nos o que somos. O que somos e não o que temos. E eu acredito, quero acreditar, que em 850 anos construímos um “edifício”, uma identidade valiosa!




Sobre a "Encomenda Prodigiosa"


                                                                                                                         
Pátria
Pátria dos mil rendimentos
Gastos em monumentos
Em vestidos e brocados
Jóias e ornamentos.
Só para criar a ilusão
De que era o rei leão, o João.

Foi o Quinto de seu nome
E tornou-se Fidelíssimo.
Tanto poder! Tanta glória!
Para acabar toda a história
 Nuns minutos de Novembro.
Patriarcal entre o escombro
O Reino todo com fome.

Ai Portugal, Portugal
Vaidoso, novo-rico e oco!
Estás a perder pouco a pouco
O vigor e a alegria.
Pudesse voltar o dia
De te termos forte e inteiro.
Rico sem ser de dinheiro!
                                                                                                                                                

Ana Amorim
17 de Julho de 2013

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