quinta-feira, 7 de maio de 2015

TEMPLÁRIOS/GNOSTICISMO/CATARISMO/CABALA




Para além da história económica e política

Falar de Templários é falar de mistérios, falar de uma instituição que nasceu e cresceu num momento em que se dá um cruzamento entre Religião, Filosofia, Arte e Tradição particularmente profícuo mas também conflituoso. Os Templários têm sido vistos e imaginados de muitas formas, umas lisonjeiras, outras maléficas, outras mítico-mágicas. No entanto, se quisermos perceber mais um pouco desse “caldeirão cultural” em que a Ordem do Templo se formou e desenvolveu, e perceber porque razão foram condenados e castigados pelo Papa Clemente V, como heréticos, há que compreender também que o contato que os cavaleiros do Templo tiveram com as culturas do Oriente nos séculos XII e XIII, os levou a encontrar restos/fragmentos das crenças gnósticas, quer na Palestina quer nas suas sobrevivências especialmente vivas na Grécia, em Constantinopla e em Alexandria.
A Gnose enquanto movimento filosófico nasce entre os Gregos, muito influenciada pelo Platonismo, pelo Pitagorismo, pelos Mistérios de Elêusis, e defende a possibilidade de um conhecimento integral do mundo e dos princípios que o regem implicando uma compreensão que é também auto-conhecimento, o que hipoteticamente nos aproximaria da divindade. Para atingir a Sabedoria eram necessárias várias vias, sendo uma delas a reencarnação.
Desde muito cedo (séculos II e III da era cristã) que as crenças gnósticas estão, presentes em todos os debates e heterodoxias esmagadas progressivamente pela ortodoxia da igreja que se vai construindo como instituição.
Um dos indícios da existência de crenças gnósticas entre os cavaleiros do Templo é a utilização do abraxas, símbolo gnóstico composto por um personagem cujo corpo está coberto por uma armadura, terminando com um vestido curto, donde saem, em vez de duas pernas, duas serpentes, cada uma com duas cabeças. Em geral, a personagem tem na mão esquerda um escudo redondo ou oval, onde estão inscritas as letras sagradas I A O ou A O I ou I A ÓMEGA, e, na outra mão, um chicote que é o do deus egípcio Amon-Ra, símbolo da firmeza, do governo, do poder, da lei, do império sobre os seres e as coisas, o ceptro chicote de Amsu. Esta personagem tem uma cabeça de galo voltada para o céu, lembrando o canto matinal ao Sol.
Entre os selos da Ordem há um, guardado nos Arquivos Nacionais de França, onde figura claramente um abraxas acompanhado pela menção Secretum Templi, e encimado pela cruz da Ordem.
Paul de Saint-Hilaire, numa obra dedicada aos selos dos Templários, refere também a existência da palavra abraxas gravada em cruzes templárias e lembra que”mais de um décimo das impressões deixadas pela Ordem do Templo são entalhes gnósticos dos primeiros séculos, recuperados e montados em selos”. Todos figuravam em selos postos em documentos com datas entre 1210 e 1290.
Na Idade Média, os Cátaros foram os principais representantes das doutrinas gnósticas no Ocidente, e é muito interessante constatar que o desenvolvimento do catarismo em França tenha ocorrido essencialmente nos locais onde os Templários, desde a criação da Ordem registaram o seu maior progresso – no Languedoc e em Champagne.
Como é sabido, para os Cátaros, Deus não pode estar ligado à matéria, o plano da sua realidade é incomparavelmente mais elevado, não podendo estar imiscuído nem na criação material nem na encarnação das almas. Assim, para que as almas pudessem ser salvas Deus teria criado uma emanação de si, para fazer uma ponte entre o céu e a terra – Cristo. Ser “perfeito” não era mais do que um estado preparatório, pois que só pelo consolamentum se recebia a salvação.
Não conhecemos a essência desse sacramento apenas conhecemos as fórmulas do rito e a exigência de uma reunião de homens purificados, sendo o conteúdo espiritual transmitido por um perfeito que o recebera ele próprio de acordo com uma cadeia que se julgava ininterrupta. Um beijo simbólico selava a transmissão de uma vida superior e era o sinal visível da corrente de amor que passava de uns para os outros. Para alguns autores, o consolamentum era o “segredo de Jesus”, o espírito do “Graal”. Na encarnação de Cristo, os cátaros apenas viam um valor simbólico que apenas poderia ter ocorrido em imagem, sem realidade carnal, dado que Deus não podia encarnar na matéria. E, isso também podia muito bem estar de acordo com o ritual de negação de Cristo, que inegavelmente existiu na Ordem, ainda que os testemunhos recolhidos provem que, pelo menos nos últimos anos, aqueles que o praticavam não sabiam verdadeiramente o que faziam. Em 1136, a regra da Ordem foi modificada sendo autorizada a receber no seu seio os excomungados, com a única reserva de que tivessem manifestado arrependimento. Isto permitiu, pois, aos Templários receberem cátaros, tanto mais que não tinham mostrado muita pressa em ajudar os barões do norte na sua cruzada contra os Albigenses.
Não resta também dúvida de que os Templários mantiveram uma relação bastante estreita com os intelectuais das aljamas judaicas, nomeadamente no reino de Castela e de Aragão, onde se estudava a Cabala – uma forma de estudar misticamente as Escrituras, para extrair delas o sentido último da criação da vida e identificar-se com ele.
Simbolicamente, este sentido confundia-se com a possibilidade alquímica de criar, materialmente, essa mesma vida.
Há vários indícios que podem conduzir à suspeita fundamentada de que os Templários beberam em fontes cabalísticas e, em mais de um aspeto, exprimiram esse seu conhecimento em símbolos adotados por eles, aos quais se atribuiu uma interpretação diferente da que os mesmos podem ter quando analisados do ponto de vista esotérico da Cabala. Um desses sinais é precisamente o bafomet , que não seria objeto de adoração idolátrica mas um elemento de meditação , em muitos casos, na sala de reuniões das comendas.
O bafomet é uma representação de uma cabeça, muitas vezes de caráter andrógino,.e uma caveira ou uma cabeça, com barba, e também, por vezes, um pentáculo salomónico.
Também o sinete templário, representando dois cavaleiros montando um único cavalo, o que foi interpretado como um sinal de pobreza – o que é uma interpretação não só falsa como gratuita – coaduna-se bastante com uma leitura cabalística em que Yavé, o criador da Cabala, defende que um único homem não está em condições de apreender inteiramente o seu sentido, portanto escolhe um companheiro e dedica-se a meditar sobre ele a fim de o compreender. O cavalo constitui uma representação oculta dos segredos cabalísticos, que se repetiu ao longo da iconografia e dos mitos medievais.
Muitos são os indícios que nos permitem pensar que existiram razões, para além das óbvias ambições económicas e políticas, para a condenação e extinção da Ordem do Templo, por parte da Igreja, sendo que é certo que o mais temido é aquilo que se desconhece, e, logicamente, quem possua saber desse mesmo desconhecido.
O sagrado acha-se intimamente ligado ao secreto e, isto porque, em última análise, esse sentido da transcendência para o qual tende qualquer crença religiosa representa, para o ser humano, um mistério total e intransponível. A crença originou temor ou, melhor, é uma fonte desse temor – o medo último da morte e do que se possa encontrar por detrás dela.
E esse mesmo medo visceral criou a dependência do Homem em relação àqueles que tiveram – ou aparentaram ter – conhecimento certo do chamado Além.
Texto: Isabel Gualdino
Fotos: retiradas da Internet




CONVENTO DE CRISTO


Fui ver o Mundo. Fui ver o Convento de Cristo, em Tomar.
O Mundo porque, simbolicamente, foi aí que, no reinado de Dom Manuel I, se construíram as quatro partes da Terra.
Ele que era o Grão-Mestre da Ordem de Cristo, da mítica, misteriosa e extinta Ordem dos Cavaleiros do Templo.
Ele, cujo poder concreto lhe advinha da pimenta da Índia, do ouro de África, das pedrarias, porcelanas, perfumes e demais parafernália de mercadorias que atravessavam os mares nas suas naus.
Ele, que mostrava aos povos o seu poder através de um nome magnífico, com atributos sem fim: “Dom Manuel, Rei de Portugal e dos Algarves, d Aquém e d Além-Mar em África, Senhor da Guiné, da conquista, da navegação e do comércio da Etiópia, da Arábia, da Pérsia e da Índia”.
Ele, o “Venturoso”, porque não só lhe coube em sorte ocupar um trono por sucessão indirecta, como lhe caíram no colo todas as riquezas porfiadas pelos seus antecessores ao longo de um século.
Dom Manuel que marca, que ostenta o seu poder por todo o Reino – nos forais, nos pelourinhos, nos portais e nas janelas de palácios, capelas e igrejas. Com as suas armas, com as suas insígnias. Que manda construir de raiz edifícios emblemáticos que marcam a nossa identidade. Que são hoje Património da Humanidade. Com o dinheiro todo do Império, esbanjado por novos-ricos que eram, então, os senhores do Reino. Até se atingir a bancarrota.
O Convento de Cristo já lá estava antes. Desde o século XII. Estratégico no reforço da barreira natural do Tejo, fundamental para a defesa e povoamento das terras conquistadas ao Infiel.
O pano de muralhas desdobra-se cortado por cubelos redondos, as seteiras apresentando uma cruz na base. O paço abre-se para o interior, com janelas agora abertas para o céu, para o espaço azul.
Adiante, a charola com os seus contrafortes elegantes, cuja estrutura oitavada pretende alcançar a perfeição – o círculo. O círculo do panteão romano, mas também o círculo do templo dos templos, mais a oriente, na Jerusalém que simboliza o centro do Mundo – “…Oriente donde vem tudo, o dia e a fé…”
Já no interior ficámos extasiados com a beleza e a riqueza da charola.
Extasiados ficámos também com as explicações, com as histórias, com a História narrada pelo Anísio. O conhecimento profundo sobre a arte – artistas, escolas, técnicas, características, datas - poderiam com outro qualquer ser entediante, maçador, cansativo. Com ele não é. Pela vivacidade, paixão, humor que transparece do seu discurso, pela empatia que estabelece com todos nós, pelos paralelismos com o presente que traz para as suas explanações, pela inovação, actualização do saber que consegue surpreender mesmo os mais informados.
Contou-nos que viveu em tempos no Convento, jovem estudante em trabalho de campo, mas que não chegou a Cavaleiro. Pois bem, está na altura. Entreguemos-lhe nós agora o elmo e a espada. Ao Guardião do Templo. Do Templo da Sabedoria.

Texto: Ana Amorim
Fotos: Luísa e Francisco Ferreira


PARABÉNS VCA!


No dia 20 de Fevereiro festejámos e de alguma forma revivemos este percurso de dez anos que tem sido alegremente enriquecedor, não só do ponto de vista cultural, mas também humano, desta associação que consegue juntar numa só vontade, a diversidade de estilos, conhecimentos e capacidades, que se chama, com toda a propriedade – vida, cultura e arte.
A festa foi rija, apesar da nossa maioridade, pontuada pelos contributos talentosos de algumas amigas e associadas que cantaram, dançaram, disseram poesia.
Foi bom ver como todos se esmeraram, eles e elas, para criar aquele ambiente agradável, e ao mesmo tempo cheio de glamour que se espera de uma boa festa.
O sítio, a comida e a música estiveram à altura da ocasião, e a exibição do diaporama, que mostrou imagens de algumas das atividades desenvolvidas nos últimos anos, permitiu-nos tomar uma maior consciência e até de sentir orgulho em fazer parte desta associação que é simultaneamente um grupo de amigos e uma estrutura totalmente voluntária apostada em realizar objetivos culturais no seu sentido mais amplo.
A cultura implica necessariamente rituais, que são ao mesmo tempo recordação em conjunto e renovação da força criadora pois é neles que se reatualizam os actos primordiais, neste caso, onde se comemora e se renova a vontade de persistir.
Os meus parabéns plenamente sentidos para a VCA e todos os seus associados, amigos e colaboradores.


Texto: Isabel Gualdino

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

TEMPO DE ALHEIRAS



Toda a gente fala e opina sobre alheiras, mas nem todos lhe conhecem a essência, ou pelo menos a alma. E cada produto é produto de quem o fabrica, como dizia o celebérrimo Abade de Priscos ao Arcebispo de Braga. Ora, as alheiras não são bem um produto, mas um conjunto de produtos e sem bons
produtos, não se pode fazer boas alheiras.

As alheiras são um enchido tradicional fumado, cujos principais ingredientes são a carne e gordura de porco, a carne de aves (galinha e/ou peru), o pão de trigo, o azeite, condimentados com sal, alho e colorau doce e/ou picante.
Podem também ser usados como ingredientes a carne de animais de caça, a carne de vaca e o salpicão e/ou o presunto envelhecidos.

Com formato de ferradura, cilíndrico, o interior é constituído por uma pasta fina na qual se apercebem pedaços de carne desfiadas e cujo invólucro é constituído por tripa natural, geralmente de vaca.



Diz-se que a origem da alheira remonta aos fins do século XV e princípios do século XVI e está associada à presença dos judeus em Trás-os-Montes. Por não comerem carne de porco, os judeus não faziam nem fumavam os enchidos, sendo assim facilmente identificáveis pela Inquisição. Decidiram assim pegar noutros tipos de carnes e envolvê-las numa massa de pão para criar a alheira.
A receita acabou por se popularizar entre os cristãos, que lhe acrescentaram a carne de porco.

A ideia de associar o aparecimento da alheira aos judeus fixados próximo da zona raiana, para facilmente fugirem para Espanha, parece querer justificar a prática da alheira mais ajustada à terra fria transmontana.

Durante os finais do século XV e princípios do século XVI, ser-lhes-ia permitido atravessar as fronteiras em sentido da perseguição de que seriam alvo, tendo as coroas, portuguesa e espanhola, tolerado as infiltrações, pois os judeus eram trabalhadores, detentores de fortuna e comerciantes necessários.

Assim, a suposta ligação da alheira com os cristãos novos talvez não passe de uma ideia romântica popular, pois não há factos concludentes que a suportem. Parece mais certo que o seu aparecimento esteja ligado ao próprio ciclo de produção de fumeiros caseiros, ou simplesmente à necessidade de
conservação das carnes dos diversos animais criados para consumo próprio.

Segundo Francisco Manuel Alves, Abade de Baçal, a necessidade ajuda ao engenho, e fruto da perseguição que eram permanentemente alvo pela Inquisição, os judeus, "...não podendo estes comer carne de porco por imposição da sua fé, imaginaram um enchido, que, embora semelhante aos enchidos que por essa época eram o prato forte das gentes, não levasse a carne proibida."

O Abade de Baçal também se refere às alheiras, sempre associadas à matança e como um enchido de carnes. Para a Exposição Portuguesa em Sevilha em 1929, na brochura escrita sobre Trás-os-Montes, refere que em Bragança "se notabilizam como pitéus regionais deliciosos, de fama geral em todo o País tabafeias, fabricadas desde Outubro a Fevereiro..."

José Leite de Vasconcelos, na sua Etnografia Portuguesa, referencia a alheira no capítulo dos alimentos de origem animal e como enchido de porco. Na sua perspetiva as alheiras também eram chamadas de "Tabafeiras". 

A alheira é, hoje, um dos mais afamados ex-libris transmontanos, sendo as mais afamadas as de Mirandela, tendo sido nomeada uma das 7 Maravilhas da Gastronomia de Portugal. No entanto, por toda a região de Trás-os-Montes se fazem alheiras artesanais de excelente qualidade.

Em Trás-os-Montes a alheira é consumida grelhada, ou assada em lume brando, acompanhada por batata cozida com um fio de azeite, e legumes da época variados. Mais a sul o mais natural é encontrar os menus com a alheira frita, batatas fritas, ovo estrelado e saladas de alface e tomate. Por vezes, é também acompanhada por grelos de couve. É uma presença habitual nas ementas dos restaurantes de todo o país.

“Em Fevereiro chega-te ao fumeiro” - Provérbio popular
Sugestões de Confeção

Visite o site http://pt.petitchef.com/tags/recettes/alheira-page-

para mais receitas sobre como confeccionar alheiras.
Bibliografia:

topiteu.blogspot.com/p/origem-da-alheira.html
www.infopedia.pt/

Maria Fernanda Lopes, Fevereiro 2015

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

PALÁCIO DO PÁTIO DO SALDANHA OU PALÁCIO DA EGA


O palácio do pátio do Saldanha, vulgarmente conhecido pelo palácio da Ega, constitui um edifício de reconhecido valor artístico e histórico.
O seu núcleo primitivo deve remontar ao século XVI, pois sabe-se que em 1582 já existia a "casa nobre", podendo ler-se esta data na curiosa fonte de "embrechados" à entrada do palácio.

  
O edifício apresenta-se dividido em três corpos principais: o da entrada, cuja fachada dava para o pátio, actualmente um bonito jardim; o do lado Sul, de dois pisos, com uma grande fonte para o Tejo, dando igualmente para um jardim embelezado por um grande lago e o "Salão Pompeia", a nascente, continuação do corpo anterior e ligando também com um jardim superior.
Nos princípios do século XVIII, acrescentou-se ao Palácio um enorme
salão, designado como sala da música, sala das colunas, sala dos marechais e Salão Pompeia.
É sobretudo neste magnifico salão que reside o interesse artístico deste edifício, pois é uma das mais belas salas da cidade. Nele podem admirar-se oito painéis de azulejos holandeses do início do século XVIII, representando vistas das cidades portuárias de Antuérpia, Roterdão, Midelburgo, Colónia, Hamburgo, Veneza, Londres e Constantinopla, e que segundo a opinião de "Santos Simões" serão da autoria do artista holandês "Boomeester". Era um espaço usado como sala de música em grandes banquetes e por isso foi colocada uma estátua de Apolo, o deus da música. Este encontra-se rodeado de frescos, de magníficas colunas e de oito painéis de azulejos holandeses do século XVIII ilustrando os principais portos europeus.
Este salão foi totalmente transformado nos princípios do século XIX. Foi arrancado o tecto primitivo de madeira, tapadas as janelas superiores e construída a falsa cúpula, cujo bordo assenta em oito colunas de Madeira oca. No local das janelas foram pintados painéis ao gosto da época; conservaram-se os painéis de azulejos, mas sacrificaram-se as fiadas extremas para acomodar a caixilharia de madeira.
Durante as invasões francesas conheceu este Palácio um grande esplendor. O "2º Conde da Ega", "Aires José Maria de Saldanha", regressado de Espanha, onde estivera como "Embaixador de Portugal", mandou fazer importantes obras de embelezamento.
Durante essa época, o palácio chegou a ser frequentado pelo general
Junot, uma vez que os Saldanha tomaram partido dos franceses. Após
terem sido expulsas as tropas francesas, os condes de Egavêem -se obrigados a abandonar Portugal e partem para o exílio.
O nome do palácio deve-se a uma das suas proprietárias, a Condessa da Ega, que permitiu que o general Junot, se instalasse no palácio durante as invasões francesas.
Com o palácio abandonado, vai servir como hospial às tropas anglo-lusas e mais tarde de quartel-general do Marechal William Beresford.
Em 1823 a família "Saldanha" é reabilitada e requer a posse da sua casa senhorial. Depois de longa demanda em tribunal, é-lhe finalmente entregue o Palácio em 1839, mas a situação financeira desta família já não lhe permitia a sua manutenção.
No ano de 1843 o edifício foi vendido a um capitalista o "Barão de Forgosa" que promove obras fundamentais, dando-lhe um aspecto exterior semelhante ao que apresenta na actualidade.
A partir de 1919, foi vendido ao "Ministério das colónias", para ali instalar a "escola de medicina tropical" e a construção de um "hospital colonial", (para doenças dos países quentes). Porém são levadas a efeito grandes obras de vulto no palácio em 1931 para poder alojar condignamente o «Arquivo Histórico Colonial», hoje «Arquivo Histórico Ultramarino».
Em 1973, o palácio foi integrado na Junta de Investigações Científicas do Ultramar, actualmente Instituto de Investigação Científica Tropical. É neste imóvel que funciona actualmente o Arquivo Histórico Ultramarino.
Foram os "muitos pedidos de utilizadores da sala de leitura e de estudiosos de património" que levou a sua direcção a autorizar duas visitas gratuitas mensais.
Em 1950, este salão foi classificado como Imóvel de Interesse Público.

CURIOSIDADE
Na "GAZETA DE LISBOA" em 11 de Janeiro de 1806 era publicado o seguinte: 
O Conde da Ega aluga o "Palácio do Saldanha". Quem quiser arrendar o "Palácio" do Exmo. "Conde da Ega", à "Junqueira", por um ou mais anos, pode dirigir-se a "Francisco Caetano Tavares", morador no pátio do mesmo Palácio, denominado  "Saldanha".

FOTOS
Fernanda Lopes
 
Fontes:

Wikipédia
ruasdelisboacomhistria.blogspot.com
www.patrimoniocultural.pt
Outubro de 2014 M Fernanda Lopes


domingo, 12 de outubro de 2014

PENEDONO


Breve Apontamento de viagem

“Mas um só, que Magriço se dizia,
Destarte fala à forte companhia:
«Fortíssimos consócios, eu desejo,
Há muito já, de andar terras estranhas,
Por ver mais águas que as do Douro e Tejo,
Várias gentes e leis e várias manhas.
Agora que aparelho certo vejo,
Pois que do mundo as cousas são tamanhas,
Quero, se me deixais, ir só, por terra,
Porque eu serei convosco em Inglaterra.»”
Camões, L., Lusíadas, Canto VI, 53-54

Se alguma terra em Portugal pode ter a honra de ser berço de herói de cavalaria, comparável a qualquer outro cavaleiro estrangeiro celebrado pelos romances e gestas da Idade Média, será (muito provavelmente) Penedono, onde terá nascido Álvaro Gonçalves Coutinho, o famoso “Magriço”.
Penedono é terra granítica de muita beleza, qual recanto mágico onde o tempo parece ter parado, dominado por um castelo de estilo românico-gótico de harmonia ímpar.



 Tudo em Penedono foi perfeito, a começar pelo acolhimento, e a terminar na orientação através dos vários monumentos, polvilhados aqui e ali com as réplicas de máquinas de guerra medievais que tornam todo o espaço numa espécie de museu a céu aberto.
Tal como o “Magriço”, homem forte e corajoso do Douro, somos portugueses que têm esse desejo ou até vocação de “andar por terras estranhas”, de ver “mais águas” e “várias gentes” e conhecer “várias manhas”.

Sentimos o apelo da viagem porque em muitos de nós existe um sentimento de liberdade que naquela se concretiza e este não tem fim, como diz J.M.G. LE CLÉZIO, em Deserto :
“Não havia fim para a liberdade, ela era tão vasta como a extensão da terra, bela e cruel como a luz, doce como os olhos de água.”
Texto: Isabel Gualdino




segunda-feira, 6 de outubro de 2014

DOURO, DOURO

Douro, Douro”, 6 de Outubro de 2014
William Wordworth sustentava que certos espectáculos que testemunhamos na Natureza nos acompanharão ao longo de toda a vida e que sempre que os trouxermos à consciência, serão para nós uma força de combate e de alívio frente às dificuldades do presente. Foi a essas experiências que chamou “lugares do tempo”.
Há na nossa existência lugares do tempo
Que preservam em clara permanência
Uma virtude que renova…
Que nos penetra e faz subir mais alto
Quando é alto que estamos, e caídos nos levanta.
Também eu, na visita ao “Douro, Douro” conheci ou revisitei “lugares do tempo”.


Em Foz Côa, naquele vale que acolheu as primeira comunidades humanas em épocas glaciares, fiquei deslumbrada com as encostas a pique, que recebem e devolvem toda a força, todo o calor dos raios solares. Por uns momentos, sentada na pequena esplanada frente ao museu, eu ouvi o silêncio, somente entrecortado pelo voo dos insectos. Lá em baixo, o Douro recebendo as águas do Côa, encarrega-se de levar para diante, até ao mar, as águas serenas que têm permitido, ao longo de milénios, a sobrevivência do Homem, dos animais, das plantas.





No Douro, naquele Douro selvagem entre rochas escarpadas, vi uma paisagem rio acima, quando a luz da tarde iluminava as margens e criava espelhos verdes nas águas tranquilas, quando as carpas saltavam, quando as aves sobrevoavam a linha de água levantando um pequeno sulco rastejante, à tona. E vi outra paisagem rio abaixo, no regresso, quando o Sol já declinava e dava uma escuridão às diferentes linhas de montanhas atrás das quais se escondia. O nosso barco seguia a meio do rio, tão distante do lado português como do espanhol, e em cada curva dessa estrada dourada parecia não haver saída, não se percebia por onde continuava o curso do Douro. Vi, observei, respirei. Absorvi aquelas imagens impressionantes, aquele lugar do tempo, que tenho a certeza vou guardar para sempre.
No Alto Douro Vinhateiro – Natureza moldada pelo Homem – parece que as vinhas andam a brincar com a geometria. Olhadas de certo ângulo, surgem-nos em linhas rectas. Olhando adiante impõem-se as linhas curvas, onduladas, sujeitas que estão ao terreno. Aqui surgem figuras triangulares, acolá já têm quatro lados. Eis que as formas são regulares para logo depois não o serem. Grinaldas dispostas pelos montes, agora verdes, logo ali amareladas, umas já em tons vermelhos, outonais. Terras de xisto, muros de xisto, precipícios, curvas. E, lá em baixo, o rio, essa serpente que ondeia entre as encostas, com um movimento imperceptível, mas que nos magnetiza, para onde o nosso olhar se arrasta e fica preso, irremediavelmente.
As trepidações do autocarro puseram à prova a nossa resistência lombar, mas a reportagem fotográfica captou imagens para levarmos para casa o lugar do tempo.
E que dizer do património edificado? Militar, civil, religioso, tivemos de tudo. Desde o castelo de Penedono, ao bairro judeu de Freixo Espadacinta, à belíssima igreja de Torre de Moncorvo… A marca do Homem deixada ao longo dos séculos, em terras distantes do litoral, do centro, e que mantêm orgulhosamente a identidade, conservando os seus monumentos, valorizando o que os torna únicos.
Depois, há as pessoas! As que fomos encontrando nas diferentes povoações, sim, mas também nós – o nosso grupo.
A preparação, a especialização, o saber e a paixão dos nossos guias, a força e o entusiasmo que puseram nas suas explicações, a afabilidade com que nos acolheram faz de nós seres privilegiados, uns sortudos.
E que dizer de um grupo disciplinado, pontual, bem disposto, interessado por todos os aspectos culturais, capaz de alinhar na procura do desenho escondido na pedra, no inteirar-se do processo de fabrico da amêndoa coberta, disposto a tragar da caneca um gole de Porto antigo, pronto a cantar os “Parabéns a você” mais trinta vezes se preciso ou a exteriorizar na dança a vibração forte que as concertinas provocam em nós!
E como não é só das coisas da alma e do espírito que nos alimentamos, que escolha acertada a do almoço no Freixinho!
Guardemos, pois, a memória de tudo o que experienciamos e que todas estas vivências nos ajudem a enfrentar a rotina do dia-a-dia com mais força e boa disposição.


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Ana Lobo e Luisa Ferreira

Texto: Ana Amorim
Fotos: Maria Luísa Ferreira
Ana Maria Lobo