quarta-feira, 30 de abril de 2014

ATÉ SEMPRE JOÃO


Imagem cedida pela autora do poema
Praia
Fortaleza
Pontão
Onda vai…onda  vem…
Gaivotas  que  esperam
O sol, o barco, o peixe.
Passeando
Ele  vê,
Ele  sente,
Ele  cheira
O seu  ar … a  sua  terra … o  seu  mar…
A maresia.
E espera.
Espera  o  futuro  que  não  se  vê.
A linha  do  horizonte  afasta-se
E perde-se  para  lá  do  fundo.
E regressa  à  rua, à  marginal
Onde todos  passam.
Passam  olhando  e  não  vendo.
E ele  caminha,
Anda  e procura  o  dia  que  tomba.
O sol  põe-se  atrás  do  farol.
Cai  a  noite  e  ele  continua  a  andar
Em  direcção  ao  seu  mar
Levando  no  olhar a  sua  amada  Sesimbra.

E  dilui-se  para  lá  do  horizonte.
       Texto: Glória Chagas

terça-feira, 22 de abril de 2014

AUSCHWITZ

Sem palavras, as imagens falam por si, pedaços negros da História da Humanidade:























Imagens:Francisco Ferreira

VIAGEM DA PÁSCOA

Após mais uma viagem de Páscoa, desta vez por terras da Polónia e da Alemanha, cujas gentes sofreram de muitos modos a aniquilação física e moral, ainda não fez 70 anos, que a guerra gera e desenvolve, deixo aqui o meu testemunho, com tudo o que ele tem de subjetividade. 
Foi uma viagem extremamente rica em experiências e aprendizagens tanto relativamente ao que há de melhor, de construtivo e de belo no ser humano, como ao que há de pior, destrutivo e horrível.
Poderia falar de muitas coisas maravilhosas que vi, como o esplendoroso busto de Nefertiti, no Museu Egípcio, em Berlim, que se assemelha muito ao Belo em estado puro, ou da magnífica modernidade da Potsdamer Platz em que a cúpula do Sony center nos faz sentir algo da magia que se vive no Chapitô de um circo, da vivência de unidade, beleza e requinte de Cracóvia ou de Wroclaw, mas a minha escolha recai sobre uma visita que me marcou profundamente – a visita ao campo de extermínio de Auschwitz-Birkenau.



Trata-se da visita a um Museu e não a um Memorial sobre uma tão negra e assustadora página da história do século XX, mas não de um Museu qualquer em que objetos estão melhor ou pior expostos. É um Museu de vida, de histórias de vida que ainda hoje nos atingem com os seus gritos, medos e esperanças. O nosso coração e o nosso cérebro sente-se compelido a sentir e a pensar no que de mais profundo habita o espírito humano, na sua infinita possibilidade de esconder a maldade, na contradição que a Verdade encerra ( Arbeit macht frei)- nada de mais verdadeiro – mas também nada de mais falso.





A vida, na sua grandiosa generosidade, deu-nos a possibilidade de recordar e aprender mas também de esquecer e ignorar, de viver ou de sobreviver. O posicionamento perante os factos é opção de cada um de nós, e ainda bem que assim é – afinal que valor/mérito teria se todos fossemos obrigados a ser do mesmo modo?





Vou terminar as minhas palavras recordando alguns versos recheados de ironia de um poema de Alexandre O’Neill, que me veio à memória:
«Perfilados de medo, agradecemos
O medo que nos salva da loucura.
Decisão e coragem valem menos
E a vida sem viver é mais segura.»

Texto: Isabel Gualdino
Imagens: Francisco Ferreira


quinta-feira, 3 de abril de 2014

COIMBRA




Nos saudosos campos do Mondego...

                                                                                     
Acabo de me deliciar com umas torradas feitas de arrufada de Coimbra. Comprei-a no Nicola, na Baixinha. Temos sempre que trazer uma lembrança dos lugares visitados, para que de alguma forma nos apropriemos deles, guardando-os depois nem que seja na memória gustativa.
Mas esta incursão por Aeminium deixou-nos muitas memórias e abriu mais umas folhas do livro do passado, esse que forma a nossa identidade e a nossa sociedade.
Museu  Machado de Castro


Fiquei surpreendida com aquele criptopórtico romano, cuja aparente simplicidade de construção assenta num império de sabedoria e estabilidade. Sabedoria alcançada pelos Romanos, que buscaram em si e nas outras civilizações regras, experiências, procedimentos, soluções que resultaram em obras de arte robustas, eficazes, belas. E que perduraram através dos séculos.
Deposição de Cristo no Túmulo de João Ruão
Todo o Museu Machado de Castro é uma jóia. Será que tem sido convenientemente divulgado? Será que Coimbra já faz parte dos roteiros turísticos dos portugueses? E dos estrangeiros? Quando visito uma exposição ou um museu sempre faço um jogo: que peça escolho para levar comigo? Não importa o tamanho, não importa se cabe lá em casa. É a da minha eleição. Mas aqui… Sei lá! São tantas, tão fantásticas! Aquela escultura em madeira, barroca, de Nossa Senhora no Piso -1? Ou uma de pedra de João de Ruão? O cálice de ouro tão simples, tão perfeito? Aquela pinturinha de Josefa de Óbidos? Não consigo escolher! E depois a forma como todas as peças estão dispostas! E eu cheia de dores nas costas, à conta do “passo de montra”, ávida de absorver toda aquela beleza, inebriada com aquela viagem pela arte e pelo tempo!
Taberna do Sr. Pinto
Já com o pé na rua e guiados por uma comunicadora compulsiva, passámos pela taberna do senhor Pinto “onde tão bom é o branco, como o tinto”, por umas quantas repúblicas, de cujas varandas caíam, pendurados, sapatos, tampo de sanita, bicicleta, calças, torradeira, ferro de engomar e outros objectos que tais, a dar-nos conta da loucura, das farras, da criatividade dos jovens estudantes. A propósito deste tema tínhamos já ouvido, durante a viagem de ida, histórias deliciosas contadas pelos repúblicos Francisco e Manuel Ribau sobre a rotina, as regras, o companheirismo, a praxe que nos memoráveis anos 60 tinham marcado, indelevelmente, os que por lá passaram. E foi um relato tão vivo e tão divertido que nenhum de nós vai esquecer, por certo!

Antes de descer o “Quebra Costas” visitámos a Sé Velha, um edifício marcante do românico, também ele um ex-libris de Coimbra. Por isso mesmo, inadmissível o desleixo do terreiro em frente: sujo, desordenado… Brada aos céus! Já lá em baixo, a igreja de Santa Cruz tem o espaço à volta cuidado. E bem merece, pois aí repousam os restos mortais dos reis fundadores de Portugal, entre preciosos relicários de pedra manuelinos! Com tudo a que têm direito!
Direitos ao Paço do Conde fomos todos nós comer um lanche ajantarado, enriquecido com fados de Coimbra, cantados pela prata da casa, com muitos F R As que ajudaram a criar espírito de grupo, a distender, a divertir.
Isto tudo no sábado! E sexta feira? Durante o dia um “must”! Com destaque especialíssimo para a Biblioteca da Universidade. Barroca, sim, mas só lá mais para cima. Não dá para enfastiar com tanto ouro como noutros barrocos. Visita, aliás, muito agradavelmente guiada.
À noite, esqueçam! À Capella foi um fiasco! Qualquer um de nós cantou com mais alma no lanchinho de sábado!
O passeio a Coimbra encheu-me as medidas. (Claro que já esqueci que tive de comparecer em Sete Rios às sete horas! Que tal procurar uma praça central cujo nome comece por oito? Do “tipo”: em Oitavos às oito!)


Texto: Ana Amorim
Fotos: Beatriz Vargas