terça-feira, 22 de abril de 2014

VIAGEM DA PÁSCOA

Após mais uma viagem de Páscoa, desta vez por terras da Polónia e da Alemanha, cujas gentes sofreram de muitos modos a aniquilação física e moral, ainda não fez 70 anos, que a guerra gera e desenvolve, deixo aqui o meu testemunho, com tudo o que ele tem de subjetividade. 
Foi uma viagem extremamente rica em experiências e aprendizagens tanto relativamente ao que há de melhor, de construtivo e de belo no ser humano, como ao que há de pior, destrutivo e horrível.
Poderia falar de muitas coisas maravilhosas que vi, como o esplendoroso busto de Nefertiti, no Museu Egípcio, em Berlim, que se assemelha muito ao Belo em estado puro, ou da magnífica modernidade da Potsdamer Platz em que a cúpula do Sony center nos faz sentir algo da magia que se vive no Chapitô de um circo, da vivência de unidade, beleza e requinte de Cracóvia ou de Wroclaw, mas a minha escolha recai sobre uma visita que me marcou profundamente – a visita ao campo de extermínio de Auschwitz-Birkenau.



Trata-se da visita a um Museu e não a um Memorial sobre uma tão negra e assustadora página da história do século XX, mas não de um Museu qualquer em que objetos estão melhor ou pior expostos. É um Museu de vida, de histórias de vida que ainda hoje nos atingem com os seus gritos, medos e esperanças. O nosso coração e o nosso cérebro sente-se compelido a sentir e a pensar no que de mais profundo habita o espírito humano, na sua infinita possibilidade de esconder a maldade, na contradição que a Verdade encerra ( Arbeit macht frei)- nada de mais verdadeiro – mas também nada de mais falso.





A vida, na sua grandiosa generosidade, deu-nos a possibilidade de recordar e aprender mas também de esquecer e ignorar, de viver ou de sobreviver. O posicionamento perante os factos é opção de cada um de nós, e ainda bem que assim é – afinal que valor/mérito teria se todos fossemos obrigados a ser do mesmo modo?





Vou terminar as minhas palavras recordando alguns versos recheados de ironia de um poema de Alexandre O’Neill, que me veio à memória:
«Perfilados de medo, agradecemos
O medo que nos salva da loucura.
Decisão e coragem valem menos
E a vida sem viver é mais segura.»

Texto: Isabel Gualdino
Imagens: Francisco Ferreira


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