terça-feira, 30 de dezembro de 2014

PALÁCIO DO PÁTIO DO SALDANHA OU PALÁCIO DA EGA


O palácio do pátio do Saldanha, vulgarmente conhecido pelo palácio da Ega, constitui um edifício de reconhecido valor artístico e histórico.
O seu núcleo primitivo deve remontar ao século XVI, pois sabe-se que em 1582 já existia a "casa nobre", podendo ler-se esta data na curiosa fonte de "embrechados" à entrada do palácio.

  
O edifício apresenta-se dividido em três corpos principais: o da entrada, cuja fachada dava para o pátio, actualmente um bonito jardim; o do lado Sul, de dois pisos, com uma grande fonte para o Tejo, dando igualmente para um jardim embelezado por um grande lago e o "Salão Pompeia", a nascente, continuação do corpo anterior e ligando também com um jardim superior.
Nos princípios do século XVIII, acrescentou-se ao Palácio um enorme
salão, designado como sala da música, sala das colunas, sala dos marechais e Salão Pompeia.
É sobretudo neste magnifico salão que reside o interesse artístico deste edifício, pois é uma das mais belas salas da cidade. Nele podem admirar-se oito painéis de azulejos holandeses do início do século XVIII, representando vistas das cidades portuárias de Antuérpia, Roterdão, Midelburgo, Colónia, Hamburgo, Veneza, Londres e Constantinopla, e que segundo a opinião de "Santos Simões" serão da autoria do artista holandês "Boomeester". Era um espaço usado como sala de música em grandes banquetes e por isso foi colocada uma estátua de Apolo, o deus da música. Este encontra-se rodeado de frescos, de magníficas colunas e de oito painéis de azulejos holandeses do século XVIII ilustrando os principais portos europeus.
Este salão foi totalmente transformado nos princípios do século XIX. Foi arrancado o tecto primitivo de madeira, tapadas as janelas superiores e construída a falsa cúpula, cujo bordo assenta em oito colunas de Madeira oca. No local das janelas foram pintados painéis ao gosto da época; conservaram-se os painéis de azulejos, mas sacrificaram-se as fiadas extremas para acomodar a caixilharia de madeira.
Durante as invasões francesas conheceu este Palácio um grande esplendor. O "2º Conde da Ega", "Aires José Maria de Saldanha", regressado de Espanha, onde estivera como "Embaixador de Portugal", mandou fazer importantes obras de embelezamento.
Durante essa época, o palácio chegou a ser frequentado pelo general
Junot, uma vez que os Saldanha tomaram partido dos franceses. Após
terem sido expulsas as tropas francesas, os condes de Egavêem -se obrigados a abandonar Portugal e partem para o exílio.
O nome do palácio deve-se a uma das suas proprietárias, a Condessa da Ega, que permitiu que o general Junot, se instalasse no palácio durante as invasões francesas.
Com o palácio abandonado, vai servir como hospial às tropas anglo-lusas e mais tarde de quartel-general do Marechal William Beresford.
Em 1823 a família "Saldanha" é reabilitada e requer a posse da sua casa senhorial. Depois de longa demanda em tribunal, é-lhe finalmente entregue o Palácio em 1839, mas a situação financeira desta família já não lhe permitia a sua manutenção.
No ano de 1843 o edifício foi vendido a um capitalista o "Barão de Forgosa" que promove obras fundamentais, dando-lhe um aspecto exterior semelhante ao que apresenta na actualidade.
A partir de 1919, foi vendido ao "Ministério das colónias", para ali instalar a "escola de medicina tropical" e a construção de um "hospital colonial", (para doenças dos países quentes). Porém são levadas a efeito grandes obras de vulto no palácio em 1931 para poder alojar condignamente o «Arquivo Histórico Colonial», hoje «Arquivo Histórico Ultramarino».
Em 1973, o palácio foi integrado na Junta de Investigações Científicas do Ultramar, actualmente Instituto de Investigação Científica Tropical. É neste imóvel que funciona actualmente o Arquivo Histórico Ultramarino.
Foram os "muitos pedidos de utilizadores da sala de leitura e de estudiosos de património" que levou a sua direcção a autorizar duas visitas gratuitas mensais.
Em 1950, este salão foi classificado como Imóvel de Interesse Público.

CURIOSIDADE
Na "GAZETA DE LISBOA" em 11 de Janeiro de 1806 era publicado o seguinte: 
O Conde da Ega aluga o "Palácio do Saldanha". Quem quiser arrendar o "Palácio" do Exmo. "Conde da Ega", à "Junqueira", por um ou mais anos, pode dirigir-se a "Francisco Caetano Tavares", morador no pátio do mesmo Palácio, denominado  "Saldanha".

FOTOS
Fernanda Lopes
 
Fontes:

Wikipédia
ruasdelisboacomhistria.blogspot.com
www.patrimoniocultural.pt
Outubro de 2014 M Fernanda Lopes


domingo, 12 de outubro de 2014

PENEDONO


Breve Apontamento de viagem

“Mas um só, que Magriço se dizia,
Destarte fala à forte companhia:
«Fortíssimos consócios, eu desejo,
Há muito já, de andar terras estranhas,
Por ver mais águas que as do Douro e Tejo,
Várias gentes e leis e várias manhas.
Agora que aparelho certo vejo,
Pois que do mundo as cousas são tamanhas,
Quero, se me deixais, ir só, por terra,
Porque eu serei convosco em Inglaterra.»”
Camões, L., Lusíadas, Canto VI, 53-54

Se alguma terra em Portugal pode ter a honra de ser berço de herói de cavalaria, comparável a qualquer outro cavaleiro estrangeiro celebrado pelos romances e gestas da Idade Média, será (muito provavelmente) Penedono, onde terá nascido Álvaro Gonçalves Coutinho, o famoso “Magriço”.
Penedono é terra granítica de muita beleza, qual recanto mágico onde o tempo parece ter parado, dominado por um castelo de estilo românico-gótico de harmonia ímpar.



 Tudo em Penedono foi perfeito, a começar pelo acolhimento, e a terminar na orientação através dos vários monumentos, polvilhados aqui e ali com as réplicas de máquinas de guerra medievais que tornam todo o espaço numa espécie de museu a céu aberto.
Tal como o “Magriço”, homem forte e corajoso do Douro, somos portugueses que têm esse desejo ou até vocação de “andar por terras estranhas”, de ver “mais águas” e “várias gentes” e conhecer “várias manhas”.

Sentimos o apelo da viagem porque em muitos de nós existe um sentimento de liberdade que naquela se concretiza e este não tem fim, como diz J.M.G. LE CLÉZIO, em Deserto :
“Não havia fim para a liberdade, ela era tão vasta como a extensão da terra, bela e cruel como a luz, doce como os olhos de água.”
Texto: Isabel Gualdino




segunda-feira, 6 de outubro de 2014

DOURO, DOURO

Douro, Douro”, 6 de Outubro de 2014
William Wordworth sustentava que certos espectáculos que testemunhamos na Natureza nos acompanharão ao longo de toda a vida e que sempre que os trouxermos à consciência, serão para nós uma força de combate e de alívio frente às dificuldades do presente. Foi a essas experiências que chamou “lugares do tempo”.
Há na nossa existência lugares do tempo
Que preservam em clara permanência
Uma virtude que renova…
Que nos penetra e faz subir mais alto
Quando é alto que estamos, e caídos nos levanta.
Também eu, na visita ao “Douro, Douro” conheci ou revisitei “lugares do tempo”.


Em Foz Côa, naquele vale que acolheu as primeira comunidades humanas em épocas glaciares, fiquei deslumbrada com as encostas a pique, que recebem e devolvem toda a força, todo o calor dos raios solares. Por uns momentos, sentada na pequena esplanada frente ao museu, eu ouvi o silêncio, somente entrecortado pelo voo dos insectos. Lá em baixo, o Douro recebendo as águas do Côa, encarrega-se de levar para diante, até ao mar, as águas serenas que têm permitido, ao longo de milénios, a sobrevivência do Homem, dos animais, das plantas.





No Douro, naquele Douro selvagem entre rochas escarpadas, vi uma paisagem rio acima, quando a luz da tarde iluminava as margens e criava espelhos verdes nas águas tranquilas, quando as carpas saltavam, quando as aves sobrevoavam a linha de água levantando um pequeno sulco rastejante, à tona. E vi outra paisagem rio abaixo, no regresso, quando o Sol já declinava e dava uma escuridão às diferentes linhas de montanhas atrás das quais se escondia. O nosso barco seguia a meio do rio, tão distante do lado português como do espanhol, e em cada curva dessa estrada dourada parecia não haver saída, não se percebia por onde continuava o curso do Douro. Vi, observei, respirei. Absorvi aquelas imagens impressionantes, aquele lugar do tempo, que tenho a certeza vou guardar para sempre.
No Alto Douro Vinhateiro – Natureza moldada pelo Homem – parece que as vinhas andam a brincar com a geometria. Olhadas de certo ângulo, surgem-nos em linhas rectas. Olhando adiante impõem-se as linhas curvas, onduladas, sujeitas que estão ao terreno. Aqui surgem figuras triangulares, acolá já têm quatro lados. Eis que as formas são regulares para logo depois não o serem. Grinaldas dispostas pelos montes, agora verdes, logo ali amareladas, umas já em tons vermelhos, outonais. Terras de xisto, muros de xisto, precipícios, curvas. E, lá em baixo, o rio, essa serpente que ondeia entre as encostas, com um movimento imperceptível, mas que nos magnetiza, para onde o nosso olhar se arrasta e fica preso, irremediavelmente.
As trepidações do autocarro puseram à prova a nossa resistência lombar, mas a reportagem fotográfica captou imagens para levarmos para casa o lugar do tempo.
E que dizer do património edificado? Militar, civil, religioso, tivemos de tudo. Desde o castelo de Penedono, ao bairro judeu de Freixo Espadacinta, à belíssima igreja de Torre de Moncorvo… A marca do Homem deixada ao longo dos séculos, em terras distantes do litoral, do centro, e que mantêm orgulhosamente a identidade, conservando os seus monumentos, valorizando o que os torna únicos.
Depois, há as pessoas! As que fomos encontrando nas diferentes povoações, sim, mas também nós – o nosso grupo.
A preparação, a especialização, o saber e a paixão dos nossos guias, a força e o entusiasmo que puseram nas suas explicações, a afabilidade com que nos acolheram faz de nós seres privilegiados, uns sortudos.
E que dizer de um grupo disciplinado, pontual, bem disposto, interessado por todos os aspectos culturais, capaz de alinhar na procura do desenho escondido na pedra, no inteirar-se do processo de fabrico da amêndoa coberta, disposto a tragar da caneca um gole de Porto antigo, pronto a cantar os “Parabéns a você” mais trinta vezes se preciso ou a exteriorizar na dança a vibração forte que as concertinas provocam em nós!
E como não é só das coisas da alma e do espírito que nos alimentamos, que escolha acertada a do almoço no Freixinho!
Guardemos, pois, a memória de tudo o que experienciamos e que todas estas vivências nos ajudem a enfrentar a rotina do dia-a-dia com mais força e boa disposição.


MAIS FOTOS
Ana Lobo e Luisa Ferreira

Texto: Ana Amorim
Fotos: Maria Luísa Ferreira
Ana Maria Lobo






SENTIRES

Da Graça a Santa Apolónia


E, meus caros amigos, começou o ano. Ano? Sim o ano lectivo. No nosso grupo a maioria pertence à classe dos professores. E nós, habituámo-nos, durante muitos anos, a funcionar com o calendário escolar.

Foi no dia 20 de Setembro – mês das vindimas – que nos reencontrámos para mais uma visita guiada por esta cidade - tão linda! – de Lisboa. Fomos da Graça a Santa Apolónia, muito bem guiados pelo nosso guia exclusivo Pedro Santa Rita.
Todos tínhamos receio destas chuvas que lavam o nosso país mas, S. Pedro espreitando por entre duas nuvens, disse:
- Lá andam os meninos andarilhos de Lisboa. Como todos são boa gente, esta tarde não vou enviar chuva.
E não só não choveu como fez um calorzinho bem agradável.
Iniciámos a visita em Sapadores, junto ao mercado onde tirámos uma fotografia de família. E lá fomos nós, conversando, de ouvidos bem atentos à explicações, em direcção ao bairro da Graça para visitar a Vila Estrela d’ Ouro.
O Bairro Estrela d’Ouro cuja construção remonta aos começos do séc. XX (1907 /09), projectado pelo arquitecto Marques Júnior é um dos testemunhos exemplares da presença e do empreendedorismo da comunidade galega em Lisboa. Trata-se de uma antiga vila operária que Agapito Serra Fernandes, industrial de confeitaria, mandou construir para os seus trabalhadores. Ele próprio residiu no bairro com os seus familiares na vivenda Rosalina. No topo norte do bairro, os restantes edifícios de rés-do-chão e primeiro andar, com galeria e escada exteriores, distribuem-se, em forma de U, em torno de arruamentos particulares com nomes de familiares do proprietário A estrela de cinco pontas constitui a imagem de marca do bairro, naturalmente um dos símbolos da Galiza em alusão a Compostela - primitivamente chamada Campo de Estrelas. Um pouco por toda a parte encontramos a estrela nos passeios, na fachada da antiga fábrica, no antigo cinema, no ferro forjado das galerias, nos painéis de azulejos à entrada e no interior do bairro
Actualmente, é um bairro particular que está integrado no espaço urbano de Lisboa, fazendo parte do seu património histórico.
Passámos junto ao edifício onde funcionou o cine Royal, local onde se projectou o 1º filme sonoro em Portugal “Sombras brancas nos mares do Sul”.
Dirigimo-nos, depois, à rua do Sol à Graça. Quem a desce, encontra logo à sua direita a Travessa da Pereira: é aí que se esconde a Vila Berta, depois de atravessado um arco onde o seu nome se inscreve num pequeno painel de azulejo. Em 1887, Joaquim Francisco Tojal adquiriu a Quinta do Fidalgo e aí mandou construi a vila, de caracter essencialmente imobiliário e não operário, como as demais. O nome Berta deve-se ao facto do Joaquim Francisco Tojal ter tido apenas uma filha mulher, Berta. Joaquim Francisco Tojal era um investidor ligado à construção civil e ainda estão na posse da família cerca de 40 a 50% dos prédios. Foi dividida em duas frentes: uma mais nobre, a zona das varandas, a outra menos, ambas voltadas para uma rua interior. A Vila Berta é detentora de uma arquitectura eclética, que aglutina apontamentos Arte Nova (visíveis, por exemplo, no friso de azulejos onde se lê o nome da Vila --- Vila Bertha --- e na platibanda que percorre o conjunto de edificios), com o uso do ferro forjado em linhas ondulantes no gradeamento das varandas, denunciando assim um nítido comprometimento estético com propostas arquitectónicas de fim de século, num momento em que, na Europa, estas já haviam atingido o seu zénite., É um conjunto harmonioso com escadinhas que, de cada porta, comunicam com a rua principal, e varandas de ferro verde no primeiro andar servindo de alpendre ao rés do chão. Trepadeiras, plantas e flores aumentam o verde daquele cenário impar, com um cunho bastante intimista. .
Ainda no Largo da Graça nº 58, encontramos o edifício onde funcionou a Escola Oficina nº 1.. Foi fundada pela Sociedade Promotora de Asilos Creches e Escolas, em 1905, sob inspiração maçónica (republicana e anarquista), tendo sido inicialmente pensada como escola de marcenaria dirigida a alunos de bairros operários, de classes trabalhadoras e médias. Mas acabaria por dar lugar a um projecto mais vasto e ambicioso, associado ao princípio do ensino integral. A partir da década de 30 começou a ser uma escola normal para crianças pobres do bairro da Graça. Encerrou definitivamente em 1987.
Já que estávamos no Largo da Graça fomos até ao miradouro admirar esta nossa Lisboa, tão luminosa, tão bela, tão acolhedora. Ali podemos ler a frase, escrita no muro “ que amor é este que nos faz ir e voltar, Lisboa?”
Um pouco ao lado, na Travessa das Mónicas, encontramos um dos poucos edifícios que não ruíram com o terramoto – O palácio dos Senhores de Trofa. A sua fachada principal mantém o traçado do séc. XVII. O portal de entrada desemboca por um corredor sob o palácio e é sustentado por um arco de volta perfeita. Este pátio é conhecido como o pátio das cobras. No meio do espaço está uma cisterna desactivada.
Continuamos no Largo da Graça. Mesmo no lado oposto ao miradouro está a vila Sousa que foi construída em 1890 com o seu candeeiro mesmo no meio do pátio como se fosse árvore ali plantada que chamasse quem de fora espreitasse pelo arco e pela estreita rua que até ele vai dar.
O edifício de grande imponência, ocupa uma área substancial do largo e apresenta a fachada exterior decorada de azulejos. O acesso faz-se por intermédio de um portão de ferro e, no seu interior, o largo é cercado por casas contíguas de dois e quatro pisos.
Mesmo ao lado do portão de entrada encontra-se o famoso Botequim onde Natália Correia fazia as suas noites de tertúlia.


E começámos a descer a rua Voz de Operário que, primeiramente foi Rua da Infância. Porquê? Porque era naquela rua que existiam as instituições de amparo às crianças órfãs e abandonadas. A rua tomou o nome da instituição aí erguida
Texto: Glória Chagas

domingo, 28 de setembro de 2014

DA GRAÇA A SANTA APOLÓNIA

 Caminhando por Lisboa – de Santa Clara a Santa Apolónia
(visita guiada pelo Dr. Pedro Santa Rita).

Os participantes nesta "aventura"
Alunos atentos
No espaço ocupado pelo Campo de Santa Clara, em 1147 nem ali, nem pelas imediações se encontrava casa alguma. Diz também Norberto de Araújo nas suas Peregrinações em Lisboa que: "(...) era nos séculos velhos um campo descoberto, descarnado de edifícios, em encosta gradual, que caía, a nascente, sobre as ribas do Tejo”.

Era na época um monte inculto, começando no meio da actual Travessa da Verónica e desdobrando-se até à margem do Tejo. Ainda agora é muito amplo, pois desde o Arco Grande de Cima, (datado das remodelações filipinas), que servia de passagem superior e ligava o Convento com os terrenos da sua cerca), até à Rua do Mirante, passando pela proximidade do Templo de Santa Engrácia e do Hospital da Marinha, tudo está compreendido na sua demarcação.
Apesar de tanta gente por aqui transitar, bem pouca se recordará de que nestes terrenos acamparam e sepultaram os seus mortos, as aguerridas hostes de Cruzados Flamengos e Alemães, ao serviço do fundador da nossa monarquia, pois D. Afonso Henriques conseguiu uma aliança com os Cruzados, para a conquista de Lisboa.

Combinado o plano de ataque, ficaram os soldados portugueses com os Flamengos e Alemães no Monte de Santa Clara e os guerreiros aliados Ingleses no Alto da Senhora dos Mártires ou Monte Fragoso, próximo do actual Chiado.
D. Afonso Henriques, sendo um rei previdente e católico, logo que começou o Cerco, mandou edificar no campo uma capela e uma enfermaria.
Coroado que foi de glória o seu arrojado intento, tratou imediatamente de lançar a primeira pedra do edifício de S. Vicente e como o terreno ficava aquém das muralhas mouriscas, cerca moura, chamaram-lhe São Vicente De Fora, tal ficando para sempre. Sabe-se que tanto a Igreja como o Convento à época, eram de acanhadas dimensões.
O nome Campo de Santa Clara está ligado ao sítio desde o ano de 1294. Deve-se o seu nome à Ordem Franciscana de Santa Clara, que em 1288 edificou no local as suas instalações religiosas. Aquela casa religiosa das Freiras de Santa Clara prosperou muito, mas com o terramoto de 1755 tudo ficou reduzido a escombros e cinzas.
A Feira da Ladra teve início no Chão da Feira, ao Castelo, provavelmente em 1272, tendo mais tarde passado para o Rossio. É no ano de 1552 que surge uma primeira notícia da realização da Feira no Rossio, na Estatística Manuscrita de Lisboa. Em 1610 aparece a designação Feira da Ladra numa postura oficial.

Depois do terramoto de 1755 instalou-se na Cotovia de Baixo (actual Praça da Alegria), estendendo-se mesmo pela Rua Ocidental do Passeio Público.
Em 1823 foi transferida para o Campo de Santana, onde esteve apenas cinco meses, voltando para a Praça da Alegria.
Em 1835 voltou para o Campo de Santana, onde se conservou até 1882, antes de passar para o Campo de Santa Clara, às terças-feiras, e, desde 1903, também aos sábados.
Começa de manhã cedo e termina à tardinha, onde centenas de vendedores e compradores negoceiam. Aqui tudo se encontra à venda: utilidades, roupas, livros, objetos de coleção, antiguidades, desde máquinas fotográficas antigas a móveis usados, discos de vinil, relógios de bolso, entre tantas outras coisas… e muitos outros artigos novos e usados.
Mais do que uma mera feira, este é um espaço de encontro animado que permite conhecer melhor Lisboa e os lisboetas.
Estação de Santa Apolónia
Embora não exista acordo sobre a origem do seu nome, a tese mais reconhecida é que o termo “Ladra” se deve ao facto de aí se venderem objetos roubados.
Existe também a ideia de que o nome da Feira da Ladra não tem nada a ver com ladras ou ladrões,mas sim com a língua árabe. De facto a Feira da Ladra remonta ao século XIII (ou mesmo antes), quando a língua árabe era ainda familiar em Lisboa.
Feira da Ladra, quer dizer Feira da Virgem (a Mãe de Jesus), pois "A Virgem" em árabe diz-se "al-aadraa" (العذراء).
Museu Militar
Esta palavra, ouve-se repetidamente na "Nursat", o canal televisivo dos Maronitas (Católicos) do Líbano.

Ficam pois as duas versões sobre a origem do nome da feira, sendo que lá se vendem todo o tipo de objetos nunca sendo questionada a sua origem...
A Estação de Santa Apolónia , construída no local onde outrora existiu o convento de Santa Apolónia e inaugurada em 1865 e o Museu Militar , o mais antigo da cidade de Lisboa, completam o importante legado patrimonial, artístico e cultural, testemunho da sua longa vivência e revelador das diversas mutações sociais ao longo dos anos.


Texto: Fernanda Lopes
Fotografia: Fernanda Lopes

LUA CHEIA








Na noite de Lua cheia
Roubei o seu manto branco.
Embrulhei nele meu sentir
Fechei os meus olhos,
Cerrei a minha boca
E matei meu grito.







Poema: Glória Chagas
Fotografia: Internet

quarta-feira, 16 de julho de 2014

PANTEÃO NACIONAL EM IMAGENS


Fachada
Recepção
Capela mor
Cúpula vista do rés do chão
Cenotáfio ao Infante D. Henrique
Cenotáfio a Pedro Álvares Cabral
Cenotáfio a Luís Vaz de Camões
Vista do Coro Alto
Santo Condestável
Rainha Santa Isabel à esquerda do Santo Condestável
Santa Engrácia à direita do Santo Condestável
Panteão visto da Messe dos Oficiais
Ouvindo as explicações do Dr.Pedro Feteira
Ouvindo as explicações do Dr. Pedro Feteira







Fotografia: Maria Fernanda Lopes

PANTEÃO NACIONAL



Fotografia retirada da Internet
Visita ao Panteão Nacional no dia 22 de junho 2014

O Panteão Nacional é o local onde estão abrigados os túmulos de grandes nomes da nossa História. Existem dois monumentos reconhecidos em Portugal como Panteão Nacional.
A primeira designação de Panteão Nacional foi atribuída em 1916 à Igreja de Santa Engrácia em Lisboa; o segundo monumento a receber essa designação foi o Mosteiro de Santa Cruz em Coimbra.
Em 1910, a igreja de Santa Engrácia, ainda incompleta, passa a ter o estatuto de monumento nacional e depois a função de Panteão Nacional com a Lei n.º 520, de 29 de abril de 1916. Considerado o primeiro monumento em estilo barroco no país, é coroado por um zimbório gigante e o seu interior está pavimentado com vários tipos de mármore colorido.
A escala da igreja hoje dessacralizada é monumental e sente-se sobretudo no interior solene, não tem símbolos religiosos no altar e o espaço mais nobre parece uma enorme praça feita para passear.
É aberto ao público com aquele estatuto, depois de concluídas as suas obras em 1966.
Este templo que para muitos é uma joia do barroco português de influência italiana, tem projeto do mestre João Antunes.
A sua história atribulada, foi-nos primorosamente contada pelo nosso guia, Dr. João Feteira e inclui uma igreja primitiva destruída por uma tempestade, uma lenda à volta de um amor proibido e até uma maldição.
Situa-se no local de uma igreja erguida em 1568, por determinação da Infanta D. Maria, filha de D. Manuel I, para receber o relicário da virgem mártir Engrácia de Saragoça e por ocasião da criação da freguesia de Santa Engrácia. Essa antiga igreja foi construída no local de um templo de meados do século XII, mas foi severamente danificada por um temporal no ano de 1681. A primeira pedra do atual edifício foi lançada no ano seguinte, em 1682.
As obras perduraram tanto tempo que deram azo à expressão popular "obras de Santa Engrácia" para designar algo que nunca mais acaba.
Aliada à dita expressão popular, também está ligada uma outra história. Nos registos da paróquia local, há referências ao 'Desacato de Santa Engrácia', ocorrido a 15 de janeiro de 1630, envolvendo o jovem Simão Pires Solis. Conta-se que era cristão-novo e foi acusado de roubar o relicário de Santa Engrácia . Simão foi denunciado ao Tribunal do Santo Ofício pelos vizinhos das redondezas, uma vez que era frequentemente visto perto daquela zona. Não querendo revelar os verdadeiros motivos que o faziam estar tantas vezes ali por perto, e apesar de se declarar inocente, foi condenado à fogueira no Campo de Santa Clara, a 31 de janeiro de 1631. Antes de morrer, e ao passar pela Igreja de Santa Engrácia, lança-lhe uma maldição, dizendo "É tão certo morrer inocente como as obras nunca mais acabarem!“. Só mais tarde é que o verdadeiro assaltante foi identificado e percebido o motivo pelo qual Simão nada dissera de concreto em sua defesa: estava enamorado de uma jovem fidalga, Violante, freira no Convento de Santa Clara, próximo a Santa Engrácia, e tinham pretendido fugir juntos naquela noite, uma vez que o seu relacionamento era proibido pelo pai da moça.
A igreja só foi concluída em 1966, 284 anos após o seu início, por determinação expressa do governo da época, após avanços e recuos na sua construção e até ter servido de armazém de armamento do Arsenal do Exército e de fábrica de sapatos nos séculos XIX e XX.
Como Panteão Nacional abriga seis grandes mausoléus no topo dos braços do transepto (o espaço mais nobre) – Camões, Vasco da Gama, D. Nuno Álvares Pereira, Pedro Álvares Cabral, Afonso de Albuquerque e o Infante D. Henrique, mas para evitar a trasladação destes corpos, optou-se por evocar a sua memória através de cenotáfios (monumentos fúnebres sem a presença dos restos mortais).
Das dez figuras que têm os restos mortais na Igreja de Santa Engrácia, só Amália e Sidónio Pais, o Presidente da República assassinado em 1918, recebem flores.
Foi preciso esperar por 2000, para que fossem definidas as atuais honras do panteão. A Lei n.º 28 estipula que estas têm por objetivo “homenagear e perpetuar a memória dos cidadãos que se distinguiram por serviços prestados ao país, no exercício de altos cargos públicos, altos serviços militares, na expansão da cultura portuguesa, na criação literária, científica e artística ou na defesa dos valores da civilização, em prol da dignificação da pessoa humana e da causa da liberdade”.
As personalidades sepultadas são:
Em 2011 foi solicitada a trasladação dos restos mortais de Passos Manuel (1801-1862), incontornável figura do ensino, da política portuguesa do século XIX e mentor, da criação de um Panteão Nacional para Portugal, que acabou por não ocorrer devido a restrições orçamentais. O mesmo aconteceu com o famoso compositor Marcos Portugal (1762-1830), pouco depois. Em 2014 a Assembleia da República comunicou oficialmente a sua intenção em trasladar o corpo de Sophia de Mello Breyner Andersen, (1919-2004) com a unanimidade de todos os grupos com assento parlamentar e com o apoio posterior da sua família. A cerimónia deverá ocorrer no próximo dia 2 julho.


    Texto: Maria Fernanda Lopes
    Junho 2014



domingo, 13 de julho de 2014

RELEMBRANDO JOSÉ MANUEL PESTANA

JOSÉ MANUEL PESTANA, nosso associado, faleceu no mês de Junho. Não poderíamos deixar de assinalar este triste acontecimento. Unimo-nos na dor com a nossa amiga Carmo e restantes familiares.

No sul da Itália

Estou de pé junto à praia
Um veleiro passa na brisa da manhã
E parte através do oceano
Ele é beleza ele é vida 
O meu olhar acompanha-o até que ele desapareça no horizonte.
Alguém ao meu lado diz " ele partiu"
Partiu para onde?
Partiu do meu olhar, é tudo.
O mastro continua erguido tão alto
O seu casco mantém sempre a força de quem transporta
A sua carga humana.
O seu desaparecimento total da minha vista
Está em mim, não nele.
E no preciso momento em que alguém junto de mim diz:
-"ele partiu!"
Há outros que vendo-o aparecer no horizonte e vir em direcção a eles 
Exclamam com alegria:" Ei-lo"
É isto a morte.

William Blake




Al Jadida - Marrocos
Fotografia: Beatriz Vargas