segunda-feira, 6 de outubro de 2014

SENTIRES

Da Graça a Santa Apolónia


E, meus caros amigos, começou o ano. Ano? Sim o ano lectivo. No nosso grupo a maioria pertence à classe dos professores. E nós, habituámo-nos, durante muitos anos, a funcionar com o calendário escolar.

Foi no dia 20 de Setembro – mês das vindimas – que nos reencontrámos para mais uma visita guiada por esta cidade - tão linda! – de Lisboa. Fomos da Graça a Santa Apolónia, muito bem guiados pelo nosso guia exclusivo Pedro Santa Rita.
Todos tínhamos receio destas chuvas que lavam o nosso país mas, S. Pedro espreitando por entre duas nuvens, disse:
- Lá andam os meninos andarilhos de Lisboa. Como todos são boa gente, esta tarde não vou enviar chuva.
E não só não choveu como fez um calorzinho bem agradável.
Iniciámos a visita em Sapadores, junto ao mercado onde tirámos uma fotografia de família. E lá fomos nós, conversando, de ouvidos bem atentos à explicações, em direcção ao bairro da Graça para visitar a Vila Estrela d’ Ouro.
O Bairro Estrela d’Ouro cuja construção remonta aos começos do séc. XX (1907 /09), projectado pelo arquitecto Marques Júnior é um dos testemunhos exemplares da presença e do empreendedorismo da comunidade galega em Lisboa. Trata-se de uma antiga vila operária que Agapito Serra Fernandes, industrial de confeitaria, mandou construir para os seus trabalhadores. Ele próprio residiu no bairro com os seus familiares na vivenda Rosalina. No topo norte do bairro, os restantes edifícios de rés-do-chão e primeiro andar, com galeria e escada exteriores, distribuem-se, em forma de U, em torno de arruamentos particulares com nomes de familiares do proprietário A estrela de cinco pontas constitui a imagem de marca do bairro, naturalmente um dos símbolos da Galiza em alusão a Compostela - primitivamente chamada Campo de Estrelas. Um pouco por toda a parte encontramos a estrela nos passeios, na fachada da antiga fábrica, no antigo cinema, no ferro forjado das galerias, nos painéis de azulejos à entrada e no interior do bairro
Actualmente, é um bairro particular que está integrado no espaço urbano de Lisboa, fazendo parte do seu património histórico.
Passámos junto ao edifício onde funcionou o cine Royal, local onde se projectou o 1º filme sonoro em Portugal “Sombras brancas nos mares do Sul”.
Dirigimo-nos, depois, à rua do Sol à Graça. Quem a desce, encontra logo à sua direita a Travessa da Pereira: é aí que se esconde a Vila Berta, depois de atravessado um arco onde o seu nome se inscreve num pequeno painel de azulejo. Em 1887, Joaquim Francisco Tojal adquiriu a Quinta do Fidalgo e aí mandou construi a vila, de caracter essencialmente imobiliário e não operário, como as demais. O nome Berta deve-se ao facto do Joaquim Francisco Tojal ter tido apenas uma filha mulher, Berta. Joaquim Francisco Tojal era um investidor ligado à construção civil e ainda estão na posse da família cerca de 40 a 50% dos prédios. Foi dividida em duas frentes: uma mais nobre, a zona das varandas, a outra menos, ambas voltadas para uma rua interior. A Vila Berta é detentora de uma arquitectura eclética, que aglutina apontamentos Arte Nova (visíveis, por exemplo, no friso de azulejos onde se lê o nome da Vila --- Vila Bertha --- e na platibanda que percorre o conjunto de edificios), com o uso do ferro forjado em linhas ondulantes no gradeamento das varandas, denunciando assim um nítido comprometimento estético com propostas arquitectónicas de fim de século, num momento em que, na Europa, estas já haviam atingido o seu zénite., É um conjunto harmonioso com escadinhas que, de cada porta, comunicam com a rua principal, e varandas de ferro verde no primeiro andar servindo de alpendre ao rés do chão. Trepadeiras, plantas e flores aumentam o verde daquele cenário impar, com um cunho bastante intimista. .
Ainda no Largo da Graça nº 58, encontramos o edifício onde funcionou a Escola Oficina nº 1.. Foi fundada pela Sociedade Promotora de Asilos Creches e Escolas, em 1905, sob inspiração maçónica (republicana e anarquista), tendo sido inicialmente pensada como escola de marcenaria dirigida a alunos de bairros operários, de classes trabalhadoras e médias. Mas acabaria por dar lugar a um projecto mais vasto e ambicioso, associado ao princípio do ensino integral. A partir da década de 30 começou a ser uma escola normal para crianças pobres do bairro da Graça. Encerrou definitivamente em 1987.
Já que estávamos no Largo da Graça fomos até ao miradouro admirar esta nossa Lisboa, tão luminosa, tão bela, tão acolhedora. Ali podemos ler a frase, escrita no muro “ que amor é este que nos faz ir e voltar, Lisboa?”
Um pouco ao lado, na Travessa das Mónicas, encontramos um dos poucos edifícios que não ruíram com o terramoto – O palácio dos Senhores de Trofa. A sua fachada principal mantém o traçado do séc. XVII. O portal de entrada desemboca por um corredor sob o palácio e é sustentado por um arco de volta perfeita. Este pátio é conhecido como o pátio das cobras. No meio do espaço está uma cisterna desactivada.
Continuamos no Largo da Graça. Mesmo no lado oposto ao miradouro está a vila Sousa que foi construída em 1890 com o seu candeeiro mesmo no meio do pátio como se fosse árvore ali plantada que chamasse quem de fora espreitasse pelo arco e pela estreita rua que até ele vai dar.
O edifício de grande imponência, ocupa uma área substancial do largo e apresenta a fachada exterior decorada de azulejos. O acesso faz-se por intermédio de um portão de ferro e, no seu interior, o largo é cercado por casas contíguas de dois e quatro pisos.
Mesmo ao lado do portão de entrada encontra-se o famoso Botequim onde Natália Correia fazia as suas noites de tertúlia.


E começámos a descer a rua Voz de Operário que, primeiramente foi Rua da Infância. Porquê? Porque era naquela rua que existiam as instituições de amparo às crianças órfãs e abandonadas. A rua tomou o nome da instituição aí erguida
Texto: Glória Chagas

1 comentário:

  1. Um relato perfeito do que foi a nossa visita, ao retomarmos as nossa actividades após as férias.
    Um texto de grande qualidade e que permite, a quem não pôde participar, conhecer tim-tim por tim-tim, o que fizemos.
    Obrigada, glória, por mais um texto belissimo e muito circunstanciado.

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