Gostei.
Aprende-se sempre qualquer coisa. E a guia, além da erudição que demonstrava,
era muito boa comunicadora. Não vi, nem estava à espera de ver, um espólio de deixar
a boca aberta. Como? Se toda aquela riqueza, se todo aquele luxo ficou
destruído ou pilhado em 1755!
D. João
V concebeu uma estratégia para se impor como rei absoluto em Portugal e fez uso
de todo o ouro imenso vindo do Brasil para se afirmar também na Europa e frente
ao Papado. Pretendia ser visto como um rei tão poderoso como os das demais
potências. A ARTE ESTAVA AO SERVIÇO DESTE OBJECTIVO. Contratou os melhores
artistas do tempo, que trabalhavam em Versailles e em S. Pedro, em Roma. Cá, o
alemão Ludovice acompanhava, minuciosamente, os projectos.
Contudo,
à medida que a guia descrevia “a encomenda prodigiosa”, as características da
Patriarcal, os materiais empregues no edifício, as artes decorativas produzidas
às dezenas ou centenas, mesmo quando já corriam rumores de que o ouro se
esgotava, não consegui sentir senão angústia e revolta.
Primeiro,
porque nós, humanos, não somos nada face ao poder da Natureza. Tenho
consciência disso. Em minutos, tudo ficou destruído!
Depois,
porque não consegui deixar de fazer um paralelismo com a crise que vivemos e
como, ao longo da História, sempre nós, ou povo, ou governantes, ou todos
juntos, conseguimos desbaratar oportunidades dadas pela pimenta, pelo açúcar,
pelo ouro, pelos diamantes, pelo café… pelos fundos europeus. E aqui estamos
nós na estaca zero!
Resta-nos
o que somos. O que somos e não o que temos. E eu acredito, quero acreditar, que
em 850 anos construímos um “edifício”, uma identidade valiosa!
Sobre a "Encomenda Prodigiosa"
Pátria
Pátria
dos mil rendimentos
Em
vestidos e brocados
Jóias e
ornamentos.
Só para
criar a ilusão
De que
era o rei leão, o João.
Foi o
Quinto de seu nome
E
tornou-se Fidelíssimo.
Tanto
poder! Tanta glória!
Para
acabar toda a história
Nuns minutos de Novembro.
Patriarcal
entre o escombro
O Reino
todo com fome.
Ai
Portugal, Portugal
Vaidoso,
novo-rico e oco!
Estás a
perder pouco a pouco
O vigor
e a alegria.
Pudesse
voltar o dia
De te
termos forte e inteiro.
Rico
sem ser de dinheiro!
Ana Amorim
17 de Julho de 2013
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