quinta-feira, 3 de abril de 2014

COIMBRA




Nos saudosos campos do Mondego...

                                                                                     
Acabo de me deliciar com umas torradas feitas de arrufada de Coimbra. Comprei-a no Nicola, na Baixinha. Temos sempre que trazer uma lembrança dos lugares visitados, para que de alguma forma nos apropriemos deles, guardando-os depois nem que seja na memória gustativa.
Mas esta incursão por Aeminium deixou-nos muitas memórias e abriu mais umas folhas do livro do passado, esse que forma a nossa identidade e a nossa sociedade.
Museu  Machado de Castro


Fiquei surpreendida com aquele criptopórtico romano, cuja aparente simplicidade de construção assenta num império de sabedoria e estabilidade. Sabedoria alcançada pelos Romanos, que buscaram em si e nas outras civilizações regras, experiências, procedimentos, soluções que resultaram em obras de arte robustas, eficazes, belas. E que perduraram através dos séculos.
Deposição de Cristo no Túmulo de João Ruão
Todo o Museu Machado de Castro é uma jóia. Será que tem sido convenientemente divulgado? Será que Coimbra já faz parte dos roteiros turísticos dos portugueses? E dos estrangeiros? Quando visito uma exposição ou um museu sempre faço um jogo: que peça escolho para levar comigo? Não importa o tamanho, não importa se cabe lá em casa. É a da minha eleição. Mas aqui… Sei lá! São tantas, tão fantásticas! Aquela escultura em madeira, barroca, de Nossa Senhora no Piso -1? Ou uma de pedra de João de Ruão? O cálice de ouro tão simples, tão perfeito? Aquela pinturinha de Josefa de Óbidos? Não consigo escolher! E depois a forma como todas as peças estão dispostas! E eu cheia de dores nas costas, à conta do “passo de montra”, ávida de absorver toda aquela beleza, inebriada com aquela viagem pela arte e pelo tempo!
Taberna do Sr. Pinto
Já com o pé na rua e guiados por uma comunicadora compulsiva, passámos pela taberna do senhor Pinto “onde tão bom é o branco, como o tinto”, por umas quantas repúblicas, de cujas varandas caíam, pendurados, sapatos, tampo de sanita, bicicleta, calças, torradeira, ferro de engomar e outros objectos que tais, a dar-nos conta da loucura, das farras, da criatividade dos jovens estudantes. A propósito deste tema tínhamos já ouvido, durante a viagem de ida, histórias deliciosas contadas pelos repúblicos Francisco e Manuel Ribau sobre a rotina, as regras, o companheirismo, a praxe que nos memoráveis anos 60 tinham marcado, indelevelmente, os que por lá passaram. E foi um relato tão vivo e tão divertido que nenhum de nós vai esquecer, por certo!

Antes de descer o “Quebra Costas” visitámos a Sé Velha, um edifício marcante do românico, também ele um ex-libris de Coimbra. Por isso mesmo, inadmissível o desleixo do terreiro em frente: sujo, desordenado… Brada aos céus! Já lá em baixo, a igreja de Santa Cruz tem o espaço à volta cuidado. E bem merece, pois aí repousam os restos mortais dos reis fundadores de Portugal, entre preciosos relicários de pedra manuelinos! Com tudo a que têm direito!
Direitos ao Paço do Conde fomos todos nós comer um lanche ajantarado, enriquecido com fados de Coimbra, cantados pela prata da casa, com muitos F R As que ajudaram a criar espírito de grupo, a distender, a divertir.
Isto tudo no sábado! E sexta feira? Durante o dia um “must”! Com destaque especialíssimo para a Biblioteca da Universidade. Barroca, sim, mas só lá mais para cima. Não dá para enfastiar com tanto ouro como noutros barrocos. Visita, aliás, muito agradavelmente guiada.
À noite, esqueçam! À Capella foi um fiasco! Qualquer um de nós cantou com mais alma no lanchinho de sábado!
O passeio a Coimbra encheu-me as medidas. (Claro que já esqueci que tive de comparecer em Sete Rios às sete horas! Que tal procurar uma praça central cujo nome comece por oito? Do “tipo”: em Oitavos às oito!)


Texto: Ana Amorim
Fotos: Beatriz Vargas

1 comentário:

  1. Óptima reportagem dessa cidade tãolinda, do Penedo da Saudade, do Choupal, do Portugal dos Pequeninos...
    Obrigada pelas recordações.

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