Nos saudosos campos do Mondego...
Acabo de me deliciar com umas
torradas feitas de arrufada de Coimbra. Comprei-a no Nicola, na Baixinha. Temos
sempre que trazer uma lembrança dos lugares visitados, para que de alguma forma
nos apropriemos deles, guardando-os depois nem que seja na memória gustativa.
Mas esta incursão por Aeminium
deixou-nos muitas memórias e abriu mais umas folhas do livro do passado, esse
que forma a nossa identidade e a nossa sociedade.
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Museu Machado de Castro
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Fiquei surpreendida com aquele
criptopórtico romano, cuja aparente simplicidade de construção assenta num
império de sabedoria e estabilidade. Sabedoria alcançada pelos Romanos, que
buscaram em si e nas outras civilizações regras, experiências, procedimentos,
soluções que resultaram em obras de arte robustas, eficazes, belas. E que
perduraram através dos séculos.
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Deposição de Cristo no Túmulo de João Ruão |
Todo o Museu Machado de Castro é
uma jóia. Será que tem sido convenientemente divulgado? Será que Coimbra já faz
parte dos roteiros turísticos dos portugueses? E dos estrangeiros? Quando
visito uma exposição ou um museu sempre faço um jogo: que peça escolho para
levar comigo? Não importa o tamanho, não importa se cabe lá em casa. É a da
minha eleição. Mas aqui… Sei lá! São tantas, tão fantásticas! Aquela escultura
em madeira, barroca, de Nossa Senhora no Piso -1? Ou uma de pedra de João de
Ruão? O cálice de ouro tão simples, tão perfeito? Aquela pinturinha de Josefa
de Óbidos? Não consigo escolher! E depois a forma como todas as peças estão
dispostas! E eu cheia de dores nas costas, à conta do “passo de montra”, ávida
de absorver toda aquela beleza, inebriada com aquela viagem pela arte e pelo
tempo!
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Taberna do Sr. Pinto |
Já com o pé na rua e guiados por
uma comunicadora compulsiva, passámos pela taberna do senhor Pinto “onde tão
bom é o branco, como o tinto”, por umas quantas repúblicas, de cujas varandas
caíam, pendurados, sapatos, tampo de sanita, bicicleta, calças, torradeira,
ferro de engomar e outros objectos que tais, a dar-nos conta da loucura, das
farras, da criatividade dos jovens estudantes. A propósito deste tema tínhamos
já ouvido, durante a viagem de ida, histórias deliciosas contadas pelos
repúblicos Francisco e Manuel Ribau sobre a rotina, as regras, o
companheirismo, a praxe que nos memoráveis anos 60 tinham marcado,
indelevelmente, os que por lá passaram. E foi um relato tão vivo e tão
divertido que nenhum de nós vai esquecer, por certo!

Antes de descer o “Quebra Costas”
visitámos a Sé Velha, um edifício marcante do românico, também ele um ex-libris
de Coimbra. Por isso mesmo, inadmissível o desleixo do terreiro em frente:
sujo, desordenado… Brada aos céus! Já lá em baixo, a igreja de Santa Cruz tem o
espaço à volta cuidado. E bem merece, pois aí repousam os restos mortais dos
reis fundadores de Portugal, entre preciosos relicários de pedra manuelinos!
Com tudo a que têm direito!
Direitos ao Paço do Conde fomos
todos nós comer um lanche ajantarado, enriquecido com fados de Coimbra,
cantados pela prata da casa, com muitos F R As que ajudaram a criar espírito de
grupo, a distender, a divertir.
Isto tudo no sábado! E sexta
feira? Durante o dia um “must”! Com destaque especialíssimo para a Biblioteca
da Universidade. Barroca, sim, mas só lá mais para cima. Não dá para enfastiar
com tanto ouro como noutros barrocos. Visita, aliás, muito agradavelmente
guiada.
À noite, esqueçam! À Capella foi
um fiasco! Qualquer um de nós cantou com mais alma no lanchinho de sábado!
O passeio a Coimbra encheu-me as
medidas. (Claro que já esqueci que tive de comparecer em Sete Rios às sete
horas! Que tal procurar uma praça central cujo nome comece por oito? Do “tipo”:
em Oitavos às oito!)
Texto: Ana Amorim
Fotos: Beatriz Vargas