Da Graça a Santa Apolónia
E,
meus caros amigos, começou o ano. Ano? Sim o ano lectivo. No nosso
grupo a maioria pertence à classe dos professores. E nós,
habituámo-nos, durante muitos anos, a funcionar com o calendário
escolar.
Foi
no dia 20 de Setembro – mês das vindimas – que nos
reencontrámos para mais uma visita guiada por esta cidade - tão
linda! – de Lisboa. Fomos da Graça a Santa Apolónia, muito bem
guiados pelo nosso guia exclusivo Pedro Santa Rita.
Todos
tínhamos receio destas chuvas que lavam o nosso país mas, S. Pedro
espreitando por entre duas nuvens, disse:
-
Lá andam os meninos andarilhos de Lisboa. Como todos são boa gente,
esta tarde não vou enviar chuva.
E
não só não choveu como fez um calorzinho bem agradável.
Iniciámos
a visita em Sapadores, junto ao mercado onde tirámos uma fotografia
de família. E lá fomos nós, conversando, de ouvidos bem atentos à
explicações, em direcção ao bairro da Graça para visitar a Vila
Estrela d’ Ouro.
O
Bairro Estrela d’Ouro cuja construção remonta aos começos do
séc. XX (1907 /09), projectado pelo arquitecto Marques Júnior é um
dos testemunhos exemplares da presença e do empreendedorismo da
comunidade galega em Lisboa. Trata-se de uma antiga vila operária
que Agapito Serra Fernandes, industrial de confeitaria, mandou
construir para os seus trabalhadores. Ele próprio residiu no bairro
com os seus familiares na vivenda Rosalina. No topo norte do bairro,
os restantes edifícios de rés-do-chão e primeiro andar, com
galeria e escada exteriores, distribuem-se, em forma de U, em torno
de arruamentos particulares com nomes de familiares do proprietário
A estrela de cinco pontas constitui a imagem de marca do bairro,
naturalmente um dos símbolos da Galiza em alusão a Compostela -
primitivamente chamada Campo de Estrelas. Um pouco por toda a parte
encontramos a estrela nos passeios, na fachada da antiga fábrica, no
antigo cinema, no ferro forjado das galerias, nos painéis de
azulejos à entrada e no interior do bairro
Actualmente,
é um bairro particular que está integrado no espaço urbano de
Lisboa, fazendo parte do seu património histórico.
Passámos
junto ao edifício onde funcionou o cine Royal, local onde se
projectou o 1º filme sonoro em Portugal “Sombras brancas nos mares
do Sul”.
Dirigimo-nos,
depois, à rua do Sol à Graça. Quem a desce, encontra logo à sua
direita a Travessa da Pereira: é aí que se esconde a Vila Berta,
depois de atravessado um arco onde o seu nome se inscreve num pequeno
painel de azulejo. Em 1887, Joaquim Francisco Tojal adquiriu a Quinta
do Fidalgo e aí mandou construi a vila, de caracter essencialmente
imobiliário e não operário, como as demais. O nome Berta deve-se
ao facto do Joaquim Francisco Tojal ter tido apenas uma filha mulher,
Berta. Joaquim Francisco Tojal era um investidor ligado à construção
civil e ainda estão na posse da família cerca de 40 a 50% dos
prédios. Foi dividida em duas frentes: uma mais nobre, a zona das
varandas, a outra menos, ambas voltadas para uma rua interior. A Vila
Berta é detentora de uma arquitectura eclética, que aglutina
apontamentos Arte Nova (visíveis, por exemplo, no friso de azulejos
onde se lê o nome da Vila --- Vila Bertha --- e na platibanda que
percorre o conjunto de edificios), com o uso do ferro forjado em
linhas ondulantes no gradeamento das varandas, denunciando assim um
nítido comprometimento estético com propostas arquitectónicas de
fim de século,
num momento em que, na Europa, estas já haviam atingido o seu
zénite., É um conjunto harmonioso com escadinhas que, de cada
porta, comunicam com a rua principal, e varandas de ferro verde no
primeiro andar servindo de alpendre ao rés do chão. Trepadeiras,
plantas e flores aumentam o verde daquele cenário impar, com um
cunho bastante intimista. .
Ainda
no Largo da Graça nº 58, encontramos o edifício onde funcionou a
Escola Oficina nº 1.. Foi fundada pela Sociedade Promotora de Asilos
Creches e Escolas, em 1905, sob inspiração maçónica (republicana
e anarquista), tendo sido inicialmente pensada como escola de
marcenaria dirigida a alunos de bairros operários, de classes
trabalhadoras e médias. Mas acabaria por dar lugar a um projecto
mais vasto e ambicioso, associado ao princípio do ensino integral. A
partir da década de 30 começou a ser uma escola normal para
crianças pobres do bairro da Graça. Encerrou definitivamente em
1987.
Já
que estávamos no Largo da Graça fomos até ao miradouro admirar
esta nossa Lisboa, tão luminosa, tão bela, tão acolhedora. Ali
podemos ler a frase, escrita no muro “ que amor é este que nos faz
ir e voltar, Lisboa?”
Um
pouco ao lado, na Travessa das Mónicas, encontramos um dos poucos
edifícios que não ruíram com o terramoto – O palácio dos
Senhores de Trofa. A sua fachada principal mantém o traçado do séc.
XVII. O portal de entrada desemboca por um corredor sob o palácio e
é sustentado por um arco de volta perfeita. Este pátio é conhecido
como o pátio das cobras. No meio do espaço está uma cisterna
desactivada.
Continuamos
no Largo da Graça. Mesmo no lado oposto ao miradouro está a vila
Sousa que foi construída em 1890 com
o seu candeeiro mesmo no meio do pátio como se fosse árvore ali
plantada que chamasse quem de fora espreitasse pelo arco e pela
estreita rua que até ele vai dar.
O
edifício de grande imponência, ocupa uma área substancial do largo
e apresenta a fachada exterior decorada de azulejos. O acesso faz-se
por intermédio de um portão de ferro e, no seu interior, o largo é
cercado por casas contíguas de dois e quatro pisos.
Mesmo
ao lado do portão de entrada encontra-se o famoso Botequim onde
Natália Correia fazia as suas noites de tertúlia.
E
começámos a descer a rua Voz de Operário que, primeiramente foi
Rua da Infância. Porquê? Porque era naquela rua que existiam as
instituições de amparo às crianças órfãs e abandonadas. A rua
tomou o nome da instituição aí erguida
Texto: Glória Chagas
Um relato perfeito do que foi a nossa visita, ao retomarmos as nossa actividades após as férias.
ResponderEliminarUm texto de grande qualidade e que permite, a quem não pôde participar, conhecer tim-tim por tim-tim, o que fizemos.
Obrigada, glória, por mais um texto belissimo e muito circunstanciado.