domingo, 28 de setembro de 2014

DA GRAÇA A SANTA APOLÓNIA

 Caminhando por Lisboa – de Santa Clara a Santa Apolónia
(visita guiada pelo Dr. Pedro Santa Rita).

Os participantes nesta "aventura"
Alunos atentos
No espaço ocupado pelo Campo de Santa Clara, em 1147 nem ali, nem pelas imediações se encontrava casa alguma. Diz também Norberto de Araújo nas suas Peregrinações em Lisboa que: "(...) era nos séculos velhos um campo descoberto, descarnado de edifícios, em encosta gradual, que caía, a nascente, sobre as ribas do Tejo”.

Era na época um monte inculto, começando no meio da actual Travessa da Verónica e desdobrando-se até à margem do Tejo. Ainda agora é muito amplo, pois desde o Arco Grande de Cima, (datado das remodelações filipinas), que servia de passagem superior e ligava o Convento com os terrenos da sua cerca), até à Rua do Mirante, passando pela proximidade do Templo de Santa Engrácia e do Hospital da Marinha, tudo está compreendido na sua demarcação.
Apesar de tanta gente por aqui transitar, bem pouca se recordará de que nestes terrenos acamparam e sepultaram os seus mortos, as aguerridas hostes de Cruzados Flamengos e Alemães, ao serviço do fundador da nossa monarquia, pois D. Afonso Henriques conseguiu uma aliança com os Cruzados, para a conquista de Lisboa.

Combinado o plano de ataque, ficaram os soldados portugueses com os Flamengos e Alemães no Monte de Santa Clara e os guerreiros aliados Ingleses no Alto da Senhora dos Mártires ou Monte Fragoso, próximo do actual Chiado.
D. Afonso Henriques, sendo um rei previdente e católico, logo que começou o Cerco, mandou edificar no campo uma capela e uma enfermaria.
Coroado que foi de glória o seu arrojado intento, tratou imediatamente de lançar a primeira pedra do edifício de S. Vicente e como o terreno ficava aquém das muralhas mouriscas, cerca moura, chamaram-lhe São Vicente De Fora, tal ficando para sempre. Sabe-se que tanto a Igreja como o Convento à época, eram de acanhadas dimensões.
O nome Campo de Santa Clara está ligado ao sítio desde o ano de 1294. Deve-se o seu nome à Ordem Franciscana de Santa Clara, que em 1288 edificou no local as suas instalações religiosas. Aquela casa religiosa das Freiras de Santa Clara prosperou muito, mas com o terramoto de 1755 tudo ficou reduzido a escombros e cinzas.
A Feira da Ladra teve início no Chão da Feira, ao Castelo, provavelmente em 1272, tendo mais tarde passado para o Rossio. É no ano de 1552 que surge uma primeira notícia da realização da Feira no Rossio, na Estatística Manuscrita de Lisboa. Em 1610 aparece a designação Feira da Ladra numa postura oficial.

Depois do terramoto de 1755 instalou-se na Cotovia de Baixo (actual Praça da Alegria), estendendo-se mesmo pela Rua Ocidental do Passeio Público.
Em 1823 foi transferida para o Campo de Santana, onde esteve apenas cinco meses, voltando para a Praça da Alegria.
Em 1835 voltou para o Campo de Santana, onde se conservou até 1882, antes de passar para o Campo de Santa Clara, às terças-feiras, e, desde 1903, também aos sábados.
Começa de manhã cedo e termina à tardinha, onde centenas de vendedores e compradores negoceiam. Aqui tudo se encontra à venda: utilidades, roupas, livros, objetos de coleção, antiguidades, desde máquinas fotográficas antigas a móveis usados, discos de vinil, relógios de bolso, entre tantas outras coisas… e muitos outros artigos novos e usados.
Mais do que uma mera feira, este é um espaço de encontro animado que permite conhecer melhor Lisboa e os lisboetas.
Estação de Santa Apolónia
Embora não exista acordo sobre a origem do seu nome, a tese mais reconhecida é que o termo “Ladra” se deve ao facto de aí se venderem objetos roubados.
Existe também a ideia de que o nome da Feira da Ladra não tem nada a ver com ladras ou ladrões,mas sim com a língua árabe. De facto a Feira da Ladra remonta ao século XIII (ou mesmo antes), quando a língua árabe era ainda familiar em Lisboa.
Feira da Ladra, quer dizer Feira da Virgem (a Mãe de Jesus), pois "A Virgem" em árabe diz-se "al-aadraa" (العذراء).
Museu Militar
Esta palavra, ouve-se repetidamente na "Nursat", o canal televisivo dos Maronitas (Católicos) do Líbano.

Ficam pois as duas versões sobre a origem do nome da feira, sendo que lá se vendem todo o tipo de objetos nunca sendo questionada a sua origem...
A Estação de Santa Apolónia , construída no local onde outrora existiu o convento de Santa Apolónia e inaugurada em 1865 e o Museu Militar , o mais antigo da cidade de Lisboa, completam o importante legado patrimonial, artístico e cultural, testemunho da sua longa vivência e revelador das diversas mutações sociais ao longo dos anos.


Texto: Fernanda Lopes
Fotografia: Fernanda Lopes

1 comentário:

  1. Uma boa lição de História que completa a visita guiada - e mto bem - por Pedro Santa Rita.

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