O
Panteão
Nacional é
o local onde estão abrigados os túmulos de grandes nomes da nossa
História.
Existem dois monumentos reconhecidos em Portugal como Panteão
Nacional.
A
primeira designação de Panteão Nacional foi atribuída em 1916 à
Igreja de Santa Engrácia em
Lisboa; o
segundo monumento a receber essa
designação foi o Mosteiro de Santa Cruz em Coimbra.
Em
1910,
a
igreja de Santa Engrácia,
ainda
incompleta,
passa a ter o estatuto de monumento nacional e depois a função de
Panteão
Nacional
com a Lei n.º 520, de 29 de abril de 1916.
Considerado o primeiro monumento em estilo barroco
no país, é coroado por um zimbório
gigante e o seu interior está pavimentado com vários tipos de
mármore
colorido.
A
escala da igreja hoje dessacralizada é monumental e sente-se
sobretudo no interior solene, não tem símbolos religiosos no altar
e o espaço mais nobre parece uma enorme praça feita para passear.
É
aberto ao público com aquele estatuto, depois de concluídas as
suas obras em 1966.
Este
templo que para muitos é uma joia do barroco português de
influência italiana, tem projeto do mestre João Antunes.
A
sua história atribulada, foi-nos primorosamente contada pelo nosso
guia, Dr. João Feteira e inclui uma igreja primitiva destruída por
uma tempestade, uma lenda à volta de um amor proibido e até uma
maldição.
Situa-se
no local de uma igreja
erguida em 1568,
por determinação da Infanta
D. Maria,
filha de D.
Manuel I,
para receber o relicário da virgem
mártir Engrácia
de Saragoça e
por ocasião da criação da freguesia
de Santa Engrácia.
Essa
antiga igreja foi
construída no local de um templo de meados do
século
XII,
mas foi severamente danificada por um temporal no ano de 1681.
A primeira pedra do atual
edifício foi
lançada no ano seguinte, em 1682.
As
obras perduraram tanto tempo que deram azo à expressão popular
"obras
de Santa Engrácia"
para designar algo que nunca mais acaba.
Aliada
à dita expressão popular, também está ligada uma outra história.
Nos registos da paróquia local, há referências ao 'Desacato de
Santa Engrácia', ocorrido a 15 de janeiro de 1630, envolvendo o
jovem
Simão
Pires Solis.
Conta-se que era cristão-novo
e foi acusado de roubar o relicário de Santa Engrácia . Simão foi
denunciado ao Tribunal
do Santo Ofício
pelos
vizinhos das redondezas, uma vez que era frequentemente visto perto
daquela zona. Não querendo revelar os verdadeiros motivos que o
faziam estar tantas vezes ali por perto, e apesar de se declarar
inocente, foi
condenado à fogueira no Campo
de Santa Clara,
a 31 de janeiro de 1631. Antes de morrer,
e ao passar pela Igreja de Santa Engrácia, lança-lhe uma maldição,
dizendo "É
tão certo morrer inocente como as obras nunca mais acabarem!“.
Só mais tarde é que o verdadeiro assaltante foi
identificado e percebido o motivo pelo qual Simão nada dissera de
concreto em sua defesa: estava enamorado de uma jovem fidalga,
Violante, freira no
Convento
de Santa Clara,
próximo a Santa Engrácia, e tinham pretendido fugir juntos naquela
noite, uma vez que o seu relacionamento era proibido pelo pai da
moça.
A
igreja só foi concluída em 1966,
284 anos após o seu início, por determinação expressa do governo
da época, após avanços e recuos na sua construção e até ter
servido de armazém de armamento do Arsenal
do Exército
e de fábrica de sapatos nos séculos XIX e XX.
Como
Panteão Nacional abriga seis grandes mausoléus no topo dos braços
do transepto (o espaço mais nobre) – Camões, Vasco da Gama,
D. Nuno Álvares Pereira, Pedro Álvares Cabral, Afonso de
Albuquerque e o Infante D. Henrique, mas para evitar a trasladação
destes corpos, optou-se por evocar a sua memória através de
cenotáfios (monumentos fúnebres sem a presença dos restos
mortais).
Das
dez figuras que têm os restos mortais na Igreja de Santa Engrácia,
só Amália e Sidónio Pais, o Presidente da República assassinado
em 1918, recebem flores.
Foi
preciso esperar por 2000, para que fossem definidas as atuais honras
do panteão. A Lei n.º 28 estipula que estas têm por objetivo
“homenagear e perpetuar a memória dos cidadãos que se
distinguiram por serviços prestados ao país, no exercício de altos
cargos públicos, altos serviços militares, na expansão da cultura
portuguesa, na criação literária, científica e artística ou na
defesa dos valores da civilização, em prol da dignificação da
pessoa humana e da causa da liberdade”.
As
personalidades sepultadas são:
Almeida
Garrett
(1799-1854), escritor e político;
Amália
Rodrigues
(1920-1999),
fadista;
Aquilino
Ribeiro
(1885-1963), escritor;
Guerra
Junqueiro
(1850-1923), escritor;
Humberto
Delgado
(1906-1965),
opositor ao Estado Novo;
João
de Deus
(1830-1896), escritor;
Manuel
de Arriaga
(1840-1917),
presidente da República;
Óscar
Carmona
(1869-1951),
presidente da República;
Sidónio
Pais
(1872-1918),
presidente da República;
Teófilo
Braga
(1843-1924),
presidente da República.
Em
2011 foi
solicitada a trasladação dos restos mortais de Passos
Manuel
(1801-1862),
incontornável figura do ensino, da política portuguesa do século
XIX e mentor, da criação de um Panteão Nacional para Portugal,
que acabou por não ocorrer devido a restrições orçamentais. O
mesmo aconteceu com o famoso compositor Marcos
Portugal
(1762-1830), pouco depois. Em 2014 a Assembleia
da República
comunicou oficialmente a sua intenção em trasladar o corpo de
Sophia
de Mello Breyner Andersen,
(1919-2004) com a unanimidade de todos os grupos com assento
parlamentar e com o apoio posterior da sua família. A cerimónia
deverá ocorrer no
próximo dia 2
julho.
Texto: Maria Fernanda Lopes
Junho
2014
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